domingo, 10 de abril de 2011

CORAGEM ISLANDESA

Enquanto por cá a fábrica político-mediática produzia mais uma formidável encenação de consagração do querido líder do PS fazendo parecer pluralista um congresso do PC chinês, lá fora o mundo continua a fluir perante situações que nos deviam fazer reflectir.

Uma delas tem a ver com o referendo realizado ontem na Islândia sobre a possibilidade de os contribuintes nórdicos reembolsarem os governos da Holanda e Reino Unido que pagaram a cidadãos daqueles países pelos prejuízos que tiveram aquando da falência de um banco islandês em 2008.

Há cerca de um ano teve lugar um primeiro referendo em que os islandeses responderam com um rotundo “não” (93%). Entretanto, terá sido cozinhado um acordo menos penalizador mas, mesmo assim, o “não” voltou a vencer, agora, com cerca de 59% apesar das chantagens das agências de rating, das ameaças do FMI, da UE, dos governos britânico e holandês e dos políticos locais alinhados com as medidas neoliberais.

Revelando grande coragem, o povo islandês deu uma resposta à altura da situação, negando-se a cobrir os prejuízos do sector financeiro e dos seus negócios fraudulentos ou, no mínimo, mal geridos.

Note-se que tudo tem sido tentado para abafar as notícias provenientes da Islândia com receio de que o exemplo proveniente daquele pequeno país venha a dar frutos em muitas situações similares.

De salientar que à hora em que esta linhas estão a ser escritas, em mais de duas dezenas de comentários dos leitores à notícia do “Público” online sobre o resultado do referendo na Islândia, nem um só critica de forma negativa o triunfo do “não”.

Tratou-se de uma grande vitória da democracia e da cidadania mas devemos estar atentos para que não venha a acontecer o mesmo que em relação aos resultados do referendo na Irlanda sobre o Tratado de Lisboa. Para além da chantagem exercida, verificou-se que os referendos só terminaram quando se obteve a resposta que os seus promotores pretendiam, em mais um exemplo de democracia mutilada.


Luís Moleiro

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