O “Expresso” não é propriamente um jornal sensacionalista e, muito menos, de esquerda. Se tivesse um destes distintivos a caracterização que um jornalista faz da actual situação que se vive na Irlanda poderia ser catalogada de exagerada. Infelizmente não é assim, vindo apenas confirmar o que muitas vozes responsáveis vêm relatando e alertando a toda a hora.
Dois dados chegam para ficarmos com a ideia dos problemas que os irlandeses actualmente enfrentam: “cerca de mil pessoas abandonam o país todas as semanas” e “cerca de 500 negócios a retalho fecham as portas todos os meses”.
O jornalista começa por compor o retrato de “um país com o nosso perfil”:
“Os problemas que a Irlanda enfrenta actualmente vão muito além do êxodo forçado de jovens desempregados. A Irlanda, com um perfil idêntico ao de Portugal, recorreu à ajuda externa em Novembro do ano passado (sete meses depois da Grécia) em resultado da crise da dívida soberana. Os excessos da banca obrigaram a um resgate milionário de 43 mil milhões de euros para salvar o sistema financeiro. Os custos de financiamento incomportáveis resultantes das sucessivas descidas de rating colocaram o país no saco de ajuda desenhado pelo FMI e a União Europeia (UE).
O preço das medidas de austeridade impostas pelos planos de ajuda do FMI e da UE estão a ter um forte impacto na vida das populações. A Irlanda, que já foi um dos países mais ricos da Europa, enfrenta agora um programa de austeridade muito duro pelo menos até 2014. Cortes salariais, aumento e criação de impostos e redução dos benefícios sociais são muitas das condicionantes para as famílias irlandesas nos próximos anos. Há mesmo milhares de famílias que não conseguem pagar as hipotecas.” (…)
O pacote de medidas imposto pelo FMI, sempre o mesmo para todas as situações, conduziu a Irlanda a uma profunda recessão. A austeridade imposta nos últimos dois anos provocou uma contracção de 11% na economia e o desemprego já ultrapassa os 13%.
“Ninguém está imune à recessão. Famílias que compraram casas durante o pico máximo do ‘tigre celta’ vêem-se agora numa situação complicada. As casas valem hoje menos de metade do custo inicial. Cerca de mil pessoas abandonam o país todas as semanas. Cerca de 500 negócios de retalho fecham portas todos os meses, o que resulta num aumento do desemprego e consequente estagnação na circulação de dinheiro entre a população. A receita externa deu, até agora, poucos resultados. Desde o resgate, a performance do país tem sido trágica. O desemprego triplicou atingindo agora máximos históricos de 13,4% (450 mil desempregados), a recessão aprofundou-se e os juros da dívida pública – principal justificação do resgate – nunca aliviaram. Os juros de longo prazo a 10% são hoje um dos mais altos do mundo.” (…)
Numa altura em que Portugal também vai embarcar nas medidas impostas pelo FMI, sabendo-se que não contribuirão para a resolução de nenhum dos nossos problemas a médio e longo prazo, antes pelo contrário, os portugueses devem ponderar muito bem o seu sentido de voto nas próximas eleições. É que, o que o FMI impõe acaba por dar muito jeito aos partidos do arco do poder já que não ficarão com o ónus de medidas altamente penalizadoras para a maioria dos portugueses embora concordem com elas.
Luís Moleiro
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