sexta-feira, 1 de abril de 2011

UMA HISTÓRIA PARA NÃO ESQUECER

O carácter perverso deste Governo não tem limites e até se revela em situações onde aparentemente beneficia algum cidadão. O relacionamento do seu chefe e dos que lhe são mais próximos com a democracia é muito difícil (é o adjectivo mais brando que conseguimos arranjar). Todos os que se lhe opõem, mais tarde ou mais cedo terão uma resposta suficientemente clara para que não restem dúvidas.

Desde o primeiro mandato de Sócrates que todos os profissionais do ensino sentem a perseguição que lhes foi movida como se, conjuntamente com a restante função pública, fossem os principais culpados de todos os males que assolam o país, em especial, o défice das contas do Estado. Por isso, a única alternativa de muitos foi pedir a aposentação antecipada mesmo com prejuízo financeiro. Já não dava para aguentar o ambiente que passou a reinar nas escolas. Ao contrário de qualquer cidadão que se desloca para o local de trabalho para exercer a sua profissão, os professores passaram a apresentar-se nas escolas, não para ensinar e avaliar mas para serem avaliados, ainda por cima, da forma mais traiçoeira com se de um castigo se tratasse.

Também a Directora da Escola Secundária Infanta D. Maria em Coimbra não suportou mais o grau de saturação provocado pelo actual modelo de avaliação de professores e pediu a aposentação, pedido esse que foi aceite a 20 de Dezembro de 2010. Só que, ao contrário dos “normais” sete meses que é costume esperar, Maria do Rosário Gama já teve resposta no dia 23 de Março. Quer dizer que esperou apenas três meses para receber a aprovação da reforma. Ainda por cima, tendo acompanhado o processo na página pessoal de consulta de pedido de Aposentação da CGA, deu conta que nos últimos quinze dias a evolução do processo foi muito rápida na medida em que antes “estava aí a 40%” como declarou. Para além disso também afirmou que não pediu nada a ninguém e não consegue explicar a rapidez. Tinha planeado ficar a trabalhar até ao final do ano lectivo mas ontem foi o seu último dia na Escola Infanta D. Maria.

Sendo do conhecimento geral que estamos perante uma personalidade pouco simpática ao Governo e que não se deixa manipular, é perfeitamente legítimo pensar-se que foi despachada o mais rapidamente possível. Não é coincidência, em especial, se nos lembrarmos que vamos entrar em campanha eleitoral e colocar alguém de confiança da máquina partidária na Direcção de uma escola com o prestígio da Infanta D. Maria vem mesmo a calhar em termos de propaganda.

É claro que esta ocorrência não passou despercebida na blogosfera e a imprensa local fez-se eco de algumas tomadas de posição como as que vêm inseridas no blog “A educação do meu umbigo”, das quais destacamos: “alguém estava apressado por…”, “demasiado rápido para o tempo habitual. É preciso calar quem incomoda! É o novo fascismo! É o fascismo socratino.” Também no blog “Correntes” comentaram: “como incomoda, toca a despachar a coisa rapidamente.” São expressões que qualquer professor subscreve, sem pestanejar, por saber que estão muito próximas da realidade.

Mas realidade é, ainda, a realização de eleições daqui a dois meses e, na hora de votar, é preciso termos presente esta história e muitas outras igualmente pouco edificantes.


Luís Moleiro

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