Houve muitos portugueses que, tal como o escritor Manuel António Pina “receberam com alguma expectativa a candidatura de Fernando Nobre (FN)” à Presidência da República. Com a crise política que atravessamos e a descrença nos partidos, um discurso contra-corrente entrou com alguma facilidade nos ouvidos dos portugueses que estão sempre a espera de um D. Sebastião. Mas ainda não foi desta vez que “o desejado” surgiu numa manhã de nevoeiro. Inclusive houve bloquistas que logo se apressaram a garantir o seu voto em FN contra o candidato oficialmente apoiado pelo BE.
Acabámos de ter agora a prova provada que, apesar de tudo, Manuel Alegre era o candidato melhor posicionado para derrotar Cavaco Silva que, como facilmente se constata está a desempenhar um fraco papel na presente crise.
Mas a verdade é que, mais depressa do que se imaginava FN acabou por mostrar o que pretendia depois de petiscar em diversas forças do espectro partidário. Andou a construir meticulosamente uma imagem de construtor de consensos para a colocar em leilão no momento mais apropriado. A ganância das mordomias não o deixou esperar mais tempo e acabou por se lançar nos braços do PSD já com garantia de candidatura a segunda figura do Estado – uma espécie de 2 em 1. Mas, como toda a gente sabe, em 5 de Junho vão ser eleitos os deputados para a Assembleia da República e não o seu presidente cuja eleição não está, à partida, garantida para FN. Há aqui uma espécie de falcatrua para enganar alguns distraídos.
A imagem do fundador da AMI ficou agora completamente destroçada como que a confirmar o vazio de ideias que revelou durante a campanha eleitoral, para além de alguns “slogans” em volta de questões que o povo gosta de ouvir. Mas, como se costuma dizer, há males que vêm por bem e o povo vai rapidamente aperceber-se que FN não passa de um desses oportunistas e demagogos que surgem, frequentemente, em situações de crise, com verbo fácil e soluções prontas a servir mas sem quaisquer aptidões para os lugares a que pretendem alcandorar-se, para além de uma enorme fome de poder.
Luís Moleiro
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