Não há adjectivos que possam qualificar governos de países cujas populações – tirando uma pequena minoria ligada ao poder – vivem na maior penúria sob todos os aspectos. Em muitos casos as carências atingem os pormenores mais simples.
Infelizmente são muitos os países por esse mundo fora em que isto acontece e, não raras vezes, estão esquecidos das opiniões públicas por falta de empenhamento da comunicação social. Por isso mesmo, é importante denunciar as situações que chegam ao nosso conhecimento para alertar a opinião pública.
Casos de antigas colónias portuguesas que falam a nossa língua são especialmente sensíveis para nós. Segundo um relatório da UNESCO (divulgado há algumas semanas mas pouco conhecido), muitos dos países mais pobres gastam significativamente mais em armas do que na educação básica. Referindo-se a vários países, aquela Agência da ONU conclui que a Guiné-Bissau gasta 3,8% do Produto Interno Bruto em investimentos militares e Angola 3,6%. Se cortassem 10% nas despesas militares permitiriam que 34 mil crianças na Guiné-Bissau e 590 mil em Angola tivessem acesso à escola.
Como sabemos, estas antigas colónias portuguesas são (dês)governadas por cliques políticas que abandonaram as populações à sua sorte defendendo apenas os seus interesses pessoais e de grupo. Em Angola, José Eduardo dos Santos está no poder, ininterruptamente, desde 1979. As últimas eleições tiveram lugar em 1992 quando ele obteve 49% dos votos, portanto, abaixo da maioria absoluta. A impossibilidade de realização da 2ª volta daquelas eleições devido à recusa da UNITA aceitar os resultados eleitorais levou ao reinício da guerra civil que terminou apenas em 2002 com a morte de Savimbi. Ao mesmo tempo que estes acontecimentos decorriam, a aproximação de Angola aos Estados Unidos da América tem permitido a cobertura deste país aos desmandos e atropelos aos direitos humanos do povo angolano. A educação é, apenas, um dos sectores atingidos.
Por sua vez, a Guiné-Bissau, considerado, actualmente, o primeiro narco-estado do mundo também se encontra sob o controle de uma súcia que, durante muito tempo se envolveu em disputas militares internas delapidando os fracos recursos de um país já em si pobre.
É claro que, quando o dinheiro é pouco e, mesmo assim, mal gasto, os mais fracos são os mais atingidos. Entre estes colocam-se certamente as crianças e o seu direito à educação.
Luís Moleiro
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