Como todos sabemos, nos últimos anos
centenas de milhares de portugueses abandonaram o país à procura do trabalho
que aqui lhes é negado. Não se sabe quantos mas uma parte significativa desses
portugueses que emigraram pertence ao que já foi designada como a geração mais
bem preparada de sempre. Aliás, a emigração maciça de jovens dá imenso jeito à
propaganda governamental nos momentos em que saem as estatísticas do
desemprego. Obviamente os que saíram não contam para a taxa de desemprego assim
como aqueles que de tanto procurarem trabalho já desistiram. Caso estes dois
grandes grupos fossem contabilizados, a taxa de desemprego seria muito maior do
que os propagandeados 15,3%. Aliás, quem já fez as contas sabe que esse valor
seria à volta dos 21%... Tudo isto sem contarmos, evidentemente, com o
subemprego que por aí grassa em grande escala.
A propósito deste tema deixamos aqui
alguma citações retiradas de um artigo de opinião assinado por Gustavo Cardoso
(docente do ISCTE-IUL em Lisboa e
investigador do Centre d'Analyse et Intervention Sociologiques (CADIS) em Paris) no Público de hoje.
Durante
os últimos três anos mais de 300.000 dos melhores de entre nós terão saído,
temporária ou permanentemente, de Portugal. Uma parte substancial corresponde a
uma “fuga de cérebros” só comparável aos fenómenos que assolam países, alvo de
convulsões políticas ou militares extremas. E não tinha, nem tem, de ser assim.
(…)
A
maioria das pessoas apenas abandona o seu país quando para tal é empurrada,
(…)
A
emigração actual, tanto de trabalho genérico quanto de “cérebros”, não é o
somatório de opções individuais, mas sim o produto de uma necessidade
percebida. E, quando a necessidade é percebida por muitos deixa de ser uma
matéria puramente individual e torna-se num problema de carácter económico e
político nacional.
(…)
Para
ele [Albert O. Hirschman], o que hoje assistimos seria caracterizado como a
busca de desenvolvimento ancorada numa Estratégia de Saída, deixando a
correcção de um problema de equilíbrio económico puramente às forças do mercado
– que não são por si só capazes de o resolver.
(…)
Quantos
mais de entre nós tiverem que sair menor será a taxa de desemprego e talvez
então o mercado seja capaz de fornecer por si quatro horas por semana de
trabalho parcial para todos.
(…)
Quando a política se torna num clone da economia, só podemos esperar
que os desequilíbrios económicos se mantenham.
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