domingo, 9 de fevereiro de 2014

NÃO NOS CONFORMEMOS!


Aproveitando a aparente passividade que o povo português tem vindo a dar mostras perante a crescente pauperização do país, a maioria de direita acrescenta, a passos largos, novas achas à fogueira. Nada os demove, nem a emigração de centenas de milhares de jovens, muitos deles altamente preparados, nem a visível degradação da saúde dos portugueses, nem os salários miseráveis que estão a ser pagos aos que teimam em ir ficando por cá, nem os milhões que passam fome ou se encontram no limiar da pobreza, antes pelo contrário, vão continuando o desmantelamento do Estado social, ao mesmo tempo que reduzem os apoios sociais aos mais desfavorecidos e esmagam a classe média com mais e mais impostos.  
O excelente texto que reproduzimos a seguir, é da autoria de Nicolau Santos e encontra-se no Expresso Economia de ontem. Há nele uma espécie de apelo indirecto ao povo português no sentido de não se conformar “com esta apagada e vil tristeza” em que estamos a ser lançados pelo Governo Passos/Portas.
Senhor primeiro-ministro, não me conformo. Não me conformo com um Governo que está a desmantelar o Estado social e o contrato laboral que o país construiu em quatro décadas. Não me conformo com a redução dos apoios sociais aos mais pobres, aos idosos, aos doentes, aos mais desfavorecidos, aos que mais precisam de protecção pública e da ajuda do Estado. Não me conformo com um Governo que está a pauperizar a classe média através da política fiscal. Não me conformo com os milhares de jovens talentosos obrigados a emigrar nem com os salários miseráveis que lhes são oferecidos. Não me conformo que um engenheiro português esteja a ser contratado por um terço do salário de um engenheiro alemão. Não me conformo com os cortes nos apoios às bolsas dos cientistas. Não me conformo com a degradação das condições de trabalho, com a precarização dos vínculos laborais e com o medo de perder o emprego que assombra os trabalhadores por conta de outrem. Não me conformo com um país em que dois milhões de pessoas vivem no limiar da pobreza.
Não me conformo com um Governo que está a reduzir de tal maneira o Serviço Nacional de Saúde que os índices de mortalidade infantil, onde estávamos entre os cinco melhores do mundo, começam a regredir, a tuberculose está de regresso e as mortes por oncologia estão a subir. Não me conformo com um país onde há doentes cujos exames que os podem salvar demoram dois anos a realizar. Não me conformo com um país que adia os tratamentos contra o cancro porque há atrasos ou rutura no fornecimento de medicamentos e não tem acesso aos fármacos mais inovadores. Não me conformo com um país onde as farmácias não têm os medicamentos que os clientes procuram. Não me conformo com um país onde um jovem que sofre um acidente em Chaves tem de ser transportado por viatura durante 400 quilómetros por ausência de especialistas e de vagas nos hospitais.
Não me conformo com um país em que, apesar da crise, o Governo reduz o número de beneficiários da Segurança Social (em 2012 eram 4,13 milhões de beneficiários, agora são menos 83.306). Não me conformo com um país onde o subsídio de desemprego abrange menos de metade das pessoas desempregadas (375.057, deixando sem qualquer tipo de apoio mais de 440 mil). Não me conformo com um país onde os desempregados, cada vez recebem menos (478,09 euros, menos 11 euros do que em Dezembro de 2012).
Senhor primeiro-ministro, eu não me conformo com um Governo que num ano retirou a quase 50 mil pessoas o direito de receber o Rendimento Social de Inserção. Não me conformo com um Governo que em três anos retirou o abono de família a 130 mil pessoas. Não me conformo que 1168 crianças e jovens tenham perdido o abono de família em Dezembro de 2012.
Não me conformo com um Governo que corta salários e pensões de forma brutal. Não me conformo que me diga que não voltaremos aos “níveis de riqueza ilusória” antes de 2011. Não me conformo que me diga que saímos daqui empobrecendo. Mas sobretudo, senhor primeiro-ministro, não me conformo que me diga que tenho de me conformar com esta apagada e vil tristeza em que o senhor nos está a lançar. Não me conformo que o senhor nos tente tirar o sonho de que é possível construir um país melhor, mais justo, mais igual, mais moderno, mais feliz do que este que nos está a legar. Senhor primeiro-ministro, eu não me conformo!

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