domingo, 16 de fevereiro de 2014

PAULO PORTAS CONTRA OS SEUS PRÓPRIOS GENES




Quem leu com atenção a revista 2 do Público de hoje, deve ter notado uma curiosa crónica de Nuno Pacheco onde se faz referência a mais uma contradição de Paulo Portas, certamente muito mais significativa do que a conhecida invalidação do “irrevogável”. É provável que pouca gente ainda se recorde do acontecimento pelo que achámos muito interessante mencioná-lo aqui.
A situação referida por Nuno Pacheco ocorreu há mais de 20 anos durante um programa televisivo, Raios e Coriscos, de Manuela Moura Guedes de onde sobressai um jovem bem-falante, a gesticular de forma enérgica, argumentando contra quem lhe garante que o poder é capaz de seduzir toda a gente, incluindo ele. Mas o jovem riposta, peremptório (a citação que se segue é literal): “Jamais. O poder é a pior coisa que há. Eu sou geneticamente contra o poder, seja ele de quem for. Já houve n, já houve n, centristas, sociais-democratas, populistas, não sei quê, não sei que mais. No dia em que algum amigo meu lá chegar, eu passo-me para a oposição ou deixo de ser amigo dele.” Isto soava a promessa solene. Pois não demorou muito a deixar de soar. O jovem tornou-se deputado e chegou, calculem, a vice-primeiro-ministro. Chama-se Paulo Portas. O programa em questão, Raios e Coriscos, de Manuela Moura Guedes (o elucidativo excerto pode ser visto no Youtube), foi gravado em 1993, já lá vão duas décadas. Portas era, então, jornalista e director d’O Independente. Dois anos depois abraçou “a pior coisa que há”: foi deputado, aqui e na Europa, vereador, líder partidário e, claro, ministro. Eh, amigos de Paulo Portas: seguiram o seu conselho? Estão na oposição? Deixaram de ser amigos dele? Se não sabemos isto, pelo menos ficámos a compreender melhor o “irrevogável” de 2013. Se Portas contrariou até os próprios genes (“eu sou geneticamente contra o poder, seja ele de quem for”) por que não havia de revogar uma simples palavra, descartando-lhe o sentido?

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