O
referendo sobre a permanência do Reino Unido (RU) na União Europeia (UE) vai ter
lugar manhã e multiplicam-se as opiniões e previsões sobre o seu possível
resultado. Pela nossa parte entendemos como muito provável que o povo britânico
vote favoravelmente à continuidade do RU na UE. Aliás, é essa a opinião expressa
por Francisco Louçã no blog em que intervém no Público, onde hoje formulou 28 perguntas,
tendo como pano de fundo o referendo de amanhã. Recomendamos vivamente a sua
leitura.
No
referendo britânico, vai vencer a permanência na União Europeia? Sim.
O
que mudou a tendência eleitoral foi o assassinato de Jo Cox? Sim.
Os
votos dos nacionalistas (escoceses) são decisivos para a vitória do “fica”? Sim
(mas não só esses votos).
As
campanhas do “fica” e do “sai” transformaram a questão dos imigrantes no tema
essencial e ambas alimentaram expressões de xenofobia? Sim.
O
isolamento de Cameron aumenta, devido a ter lançado uma aventura para ajustar
contas dentro do seu partido, mesmo ganhando o referendo? Sim.
O
argumento de Jeremy Corbyn e de sectores da esquerda britânica, segundo o qual
o voto pelo “fica” é condicional e exige mudanças na Europa, vai ser ouvido em
Bruxelas e Berlim? Não.
A
promessa dos trabalhistas britânicos de que Europa vai ouvir os votantes
britânicos e recuar em medidas de destruição neoliberal, como a Parceria
Transatlântica com os Estados Unidos, tem algum sentido? Não.
A
promessa de “agora é que é”, “desta vez é diferente” e a União vai corrigir os
seus tratados, anular o Tratado Orçamental, ou recuperar da sua crise, tem
cabimento? Não.
Com
a eventual vitória no referendo, os dirigentes da União Europeia vão-se sentir
confortados para continuarem a política que tem destruído as economias e
diminuído as democracias? Sim.
Depois
da unha negra nas eleições austríacas, este resultado do referendo britânico
manterá o poder das instituições europeias e levá-las-á a esquecer as vagas
promessas de correcção? Sim.
A
União Europeia sai enfraquecida desta eventual vitória? Sim.
Os
Estados que entendam construir barreiras contra os imigrantes ou,
inclusivamente, impor normas especiais para prejudicar os imigrantes europeus,
recusando assim a aplicação dessas normas de livre circulação de cidadãos, vão
ter luz verde? Sim.
A
UE está preparada para seguir algum outro caminho que não seja ou a
desagregação ou uma concentração de poderes com o reforço da hegemonia
germânica? Não.
Ainda
é possível um federalismo europeu, ou mesmo uma confederação em que os Estados
europeus tenham estatutos iguais e que inclua transferências orçamentais entre
os países superavitários e os países deficitários? Não.
Para
os europeístas que defendiam uma política social contra o neoliberalismo e uma
estratégia de criação de emprego, a União Europeia é um projecto falhado? Sim.
A
livre circulação de capitais e as regras do mercado único vão continuar a
acentuar a divergência entre as várias economias, como tem acontecido nos
últimos anos? Sim.
O
euro é um instrumento para essa diferenciação (embora não o único)? Sim.
A
transferência de soberania de cada Estado para o Conselho Europeu, para a
Comissão Europeia e para o Eurogrupo é um perigo para a democracia? Sim.
O
esvaziamento da legitimidade nacional dos órgãos eleitos democraticamente vai
continuar a pressionar ou a corroer os regimes políticos em cada país? Sim.
O
populismo crescerá em outros países europeus? Sim.
A
vitória do “fica” ajuda a uma reflexão sobre o que deve mudar na União Europeia
para ganhar a confiança dos cidadãos e cidadãs? Não.
A
vitória do “sai” teria impacto em Portugal, porque teria alguma consequência
económica de curto prazo nas exportações e muitas consequências políticas de
médio prazo? Sim.
A
vitória do “fica” tem impacto em Portugal, porque fecha as instituições
europeias no continuismo? Sim.
A
continuidade da política e das regras e imposições institucionais da União
Europeia é aceitável para Portugal? Não.
Portugal
pode recuperar capacidade de resolver os seus problemas de desemprego,
emigração e empobrecimento cumprindo as regras europeias da livre circulação de
capitais e do controlo da sua política económica e sistema financeiro por
Berlim? Não.
Para
que Portugal possa recuperar capacidade de decisão democrática e políticas
úteis para criar emprego e reduzir a dependência é preferível não estar no
euro? Sim.
Para
Portugal é vantajosa uma situação de desagregação da União Europeia, se
produzida por um colapso súbito ou um desentendimento generalizado? Não.
Para que Portugal possa
recuperar a sua economia, reduzir a sua dívida externa e criar emprego é
vantajosa uma negociação faseada sobre a recuperação de soberania dos países em
divergência? Sim.
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