O
referendo que esta semana vai ter lugar no Reino Unido pode ditar a saída dos
britânicos da União Europeia e constituir um primeiro passo efectivo de um
processo de desintegração da Europa que se vem desenhando desde há algum tempo,
uma consequência e não uma causa. Ainda que as sondagens apontem no sentido do
Brexit (saída) a verdade é que há muitos indecisos e o assassinato de uma
deputada do Partido Trabalhista, esta semana, com o factor emocional que gerou,
pode fazer pender a balança dos resultados noutro sentido.
O
Expresso quis saber várias opiniões sobre esta problemática, entre elas, a da
deputada bloquista Mariana Mortágua, e apresentou-as na Revista E. É esse texto
da nossa camarada que transcrevemos na íntegra e aqui deixamos, pelo interesse
que revela.
Para
escrever este artigo abri os online do costume nas secções “internacional” e
“Europa”. Depois de deixar para trás o futebol, lá estavam os títulos: nove em
cada dez crianças refugiadas chegam sozinhas à Europa, Hungria aprova nova lei
para deter e expulsar refugiados. Tribunal da UE aceita cortes nos abonos de
famílias de emigrantes no Reino Unido, euroceticismo em crescendo na UE. Penso
que é suficiente. A saída do Reino Unido da UE está a ser preparada sobre
algumas das piores razões: um mix de nacionalismo xenófobo e garantias à
intocabilidade da City. Mas esta triste evidência não esgota a análise. Alguns
dos mais estrondosos erros da história deveram-se àqueles que, entre a coragem
de responder às perguntas que importam e a vontade de manter o statu quo,
preferiram a última.
Comecemos
pela pergunta mais simples; porque cresce a extrema-direita na Europa? Todo o
euroceticismo é de direita? A Europa ficará melhor se o ‘ficar’ vencer o
referendo?
Ignacio
Ramonet escreveu no “Le Monde Diplomatique” sobre a forma como, na História, o
medo permanece e apenas muda de lugar. Hoje, o medo da crise, da precariedade e
do desemprego encontrou na suposição de uma ameaça extrema o bode expiatório
ideal para a extrema-direita. A responsabilidade é das instituições europeias:
quando a crise exigia apoio social, vieram a precariedade e a austeridade;
quando a deceção exigia mais democracia, vieram a imposição e a humilhação
burocrática; quando o drama dos refugiados exigia solidariedade, chegaram o
securitarismo e a islamofobia. Não, não é preciso ser um extremista de direita
para ser cético sobre esta Europa. À esquerda, a desconfiança aumentou de cada
vez que a União Europeia se lançou na sua deriva neoliberal – ou
neoconservadora, como alguns preferem.
A
expressão do descontentamento generaliza-se, da Grécia à França, e neste
referendo britânico como reflexo e não como causa de uma desintegração europeia
e da falência da promessa de democracia e Estado social.
Vença quem vencer, o Governo
britânico já obteve um acordo europeu. Em nome da “União”, Cameron poderá
discriminar estrangeiros na proteção social e manterá a City intocável. É por
isso que a Europa já perdeu, num dos processo que marcam o princípio do fim de
uma União que não soube servir os seus povos.
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