Muitas
vezes se diz, com carradas de razão, que qualquer acontecimento da nossa
sociedade que não seja noticiado na televisão é como se nunca tivesse ocorrido.
A situação actual da central nuclear de Almaraz insere-se claramente neste
enquadramento pois não se dá conta de qualquer iniciativa consistente de um
canal televisivo no sentido de fazer chegar à opinião pública o perigo que
representa o funcionamento de uma central nuclear que já ultrapassou o seu
tempo de vida útil em 2010 sabendo-se que o Governo do Estado espanhol ainda
quer prolongar o seu funcionamento até 2030, ou seja, mais cerca de 15 anos.
Perante
a apatia dos governos ibéricos e sentindo-se que a intenção é esconder a
gravidade de um problema muito sério, houve quem, dos dois lados da fronteira,
tomasse a iniciativa de promover debates no sentido de mobilizar a opinião
pública para o risco que consiste o actual estado de coisas no que diz respeito
a Almaraz. É assim que, daqui a dois dias (11 de Junho) terá lugar em Cáceres
uma manifestação ibérica a exigir o encerramento da central nuclear instalada
naquela vila junto ao Rio Tejo.
Tendo
como pano de fundo esta situação, António Eloy, Membro do Movimento Ibérico, assina
hoje no Público um artigo de opinião do qual deixamos aqui o seguinte excerto.
Neste
momento, o programa nuclear espanhol está num nó górdio, sendo que as centrais
se encontram a chegar ao termo do seu período de vida, mesmo com o
prolongamento dessa.
Para
vos apresentar a situação nuclear espanhola e a problemática do encerramento
imprescindível das centrais castelhanas, nomeadamente das que utilizam as águas
do Tejo, [vem o] MIA, solicitar-vos a oportunidade de vos fazer uma
exposição."
Essa
exposição foi feita no Parlamento aquando da visita da comissão a Vila Velha de
Ródão, já depois de novos incidentes na central nuclear de Almaraz, e nessa
revelou-se uma unanimidade de todos os partidos sobre a necessidade de o
Governo português, seja junto da União Europeia seja junto das autoridades espanholas,
agir no sentido de pôr termo a uma central, por demais inútil em termos de
fornecimento de electricidade, a Espanha e à Península Ibérica.
Posteriormente
a esta votação unânime do Parlamento, diversos municípios ribeirinhos, de que
destaco os mais povoados, Lisboa, Loures e Amadora, e muitos outros votaram no
mesmo sentido, sobre esta central.
Com
os grupos de Almaraz, o historial de incidentes é imenso, já houve, ao
contrário do que mentem alguns técnicos da nuclear (e, pasme-se, do próprio
Ministério da Ambiente português!), vários vertidos radioactivos para o Tejo,
um dos quais chegou a ser alarmante, sendo que diariamente partículas
radioactivas transitam para as suas águas (está registado!). No entanto,
felizmente, e disso todos nos congratulamos, só houve incidentes de registo
nuclear menos grave, 1 e 2. Agora, com os problemas da idade e as deficiências
nos equipamentos, que são, inclusive, relatadas pelo Conselho de Segurança
Nuclear espanhol, agora que autoridades internacionais (da ONU) nos referem que
se Fukushima fosse noutro país que não o Japão teria sido um cataclismo, dado
nenhum estar preparado para, com método, retirar 200.000 (duzentos mil!)
habitantes (na medieval vila de Almaraz há cartazes para evacuação, cada um
aponta para um lado!)...
Hoje,
embora escamoteados, várias centenas de contaminados no Japão vivem condenados,
apesar das pastilhas de iodo que foram disponibilizadas (as nossas nem
vê-las!!!).
No
sábado, 11 de Junho, a partir das 11h, em Cáceres, muitas, muitas centenas de
portugueses, a totalidade ou quase totalidade dos grupos ecologistas nacionais,
ou com alguma interferência com o Tejo ou com a política de sustentabilidade,
alguns partidos políticos portugueses, ao mais alto nível, e do lado espanhol
outras centenas, muitas, impressionando e pressionando os partidos políticos,
em campanha eleitoral, vão a debates, sessões de esclarecimento, e momentos de
festa, que terminarão com uma grande manifestação, talvez das maiores e mais
ibéricas, contra a nuclear: vamos reclamar o fecho de Almaraz e uma nova
política energética, amiga do ambiente.
Os
dados estão lançados, não podemos deixar estas centrais nucleares continuar a
funcionar, ainda por cima estando já completamente amortizadas e sendo
desnecessárias para qualquer outro objectivo que não as rendas do capital, não
podemos continuar a viver sob o signo da roleta-russa.
Almaraz é essa roleta. Não
corramos mais riscos! Não, obrigado!
Sem comentários:
Enviar um comentário