quinta-feira, 9 de junho de 2016

PELO ENCERRAMENTO DA CENTRAL NUCLEAR DE ALMARAZ



Muitas vezes se diz, com carradas de razão, que qualquer acontecimento da nossa sociedade que não seja noticiado na televisão é como se nunca tivesse ocorrido. A situação actual da central nuclear de Almaraz insere-se claramente neste enquadramento pois não se dá conta de qualquer iniciativa consistente de um canal televisivo no sentido de fazer chegar à opinião pública o perigo que representa o funcionamento de uma central nuclear que já ultrapassou o seu tempo de vida útil em 2010 sabendo-se que o Governo do Estado espanhol ainda quer prolongar o seu funcionamento até 2030, ou seja, mais cerca de 15 anos.
Perante a apatia dos governos ibéricos e sentindo-se que a intenção é esconder a gravidade de um problema muito sério, houve quem, dos dois lados da fronteira, tomasse a iniciativa de promover debates no sentido de mobilizar a opinião pública para o risco que consiste o actual estado de coisas no que diz respeito a Almaraz. É assim que, daqui a dois dias (11 de Junho) terá lugar em Cáceres uma manifestação ibérica a exigir o encerramento da central nuclear instalada naquela vila junto ao Rio Tejo.
Tendo como pano de fundo esta situação, António Eloy, Membro do Movimento Ibérico, assina hoje no Público um artigo de opinião do qual deixamos aqui o seguinte excerto.
Neste momento, o programa nuclear espanhol está num nó górdio, sendo que as centrais se encontram a chegar ao termo do seu período de vida, mesmo com o prolongamento dessa.
Para vos apresentar a situação nuclear espanhola e a problemática do encerramento imprescindível das centrais castelhanas, nomeadamente das que utilizam as águas do Tejo, [vem o] MIA, solicitar-vos a oportunidade de vos fazer uma exposição."
Essa exposição foi feita no Parlamento aquando da visita da comissão a Vila Velha de Ródão, já depois de novos incidentes na central nuclear de Almaraz, e nessa revelou-se uma unanimidade de todos os partidos sobre a necessidade de o Governo português, seja junto da União Europeia seja junto das autoridades espanholas, agir no sentido de pôr termo a uma central, por demais inútil em termos de fornecimento de electricidade, a Espanha e à Península Ibérica.
Posteriormente a esta votação unânime do Parlamento, diversos municípios ribeirinhos, de que destaco os mais povoados, Lisboa, Loures e Amadora, e muitos outros votaram no mesmo sentido, sobre esta central.
Com os grupos de Almaraz, o historial de incidentes é imenso, já houve, ao contrário do que mentem alguns técnicos da nuclear (e, pasme-se, do próprio Ministério da Ambiente português!), vários vertidos radioactivos para o Tejo, um dos quais chegou a ser alarmante, sendo que diariamente partículas radioactivas transitam para as suas águas (está registado!). No entanto, felizmente, e disso todos nos congratulamos, só houve incidentes de registo nuclear menos grave, 1 e 2. Agora, com os problemas da idade e as deficiências nos equipamentos, que são, inclusive, relatadas pelo Conselho de Segurança Nuclear espanhol, agora que autoridades internacionais (da ONU) nos referem que se Fukushima fosse noutro país que não o Japão teria sido um cataclismo, dado nenhum estar preparado para, com método, retirar 200.000 (duzentos mil!) habitantes (na medieval vila de Almaraz há cartazes para evacuação, cada um aponta para um lado!)...
Hoje, embora escamoteados, várias centenas de contaminados no Japão vivem condenados, apesar das pastilhas de iodo que foram disponibilizadas (as nossas nem vê-las!!!).
No sábado, 11 de Junho, a partir das 11h, em Cáceres, muitas, muitas centenas de portugueses, a totalidade ou quase totalidade dos grupos ecologistas nacionais, ou com alguma interferência com o Tejo ou com a política de sustentabilidade, alguns partidos políticos portugueses, ao mais alto nível, e do lado espanhol outras centenas, muitas, impressionando e pressionando os partidos políticos, em campanha eleitoral, vão a debates, sessões de esclarecimento, e momentos de festa, que terminarão com uma grande manifestação, talvez das maiores e mais ibéricas, contra a nuclear: vamos reclamar o fecho de Almaraz e uma nova política energética, amiga do ambiente.
Os dados estão lançados, não podemos deixar estas centrais nucleares continuar a funcionar, ainda por cima estando já completamente amortizadas e sendo desnecessárias para qualquer outro objectivo que não as rendas do capital, não podemos continuar a viver sob o signo da roleta-russa.
Almaraz é essa roleta. Não corramos mais riscos! Não, obrigado!

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