quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

CALAMIDADES SOCIAIS SÃO FRUTO DA PROTECÇÃO AOS SUPER-RICOS


O princípio de que a existência de muitos super-ricos numa sociedade traz benefícios para os pobres tem feito o seu caminho nos Estados Unidos da América e actualmente parece ser uma ideia perfeitamente enraizada na sociedade americana.
Quaisquer que sejam as suas origens – provavelmente religiosas – trata-se de uma regra tão absurda aos olhos do europeu médio que a torna inaceitável deste lado do Atlântico. Não é possível imaginar qualquer grau de justeza numa sociedade com profundas desigualdades na distribuição da riqueza.
É à volta das calamidades sociais a que dá origem a protecção aos super-ricos que gira este texto (parte de um artigo de opinião assinado pelo advogado Domingos Lopes)  que transcrevemos do “Público” de hoje.
Se os super-ricos ficarem ainda mais ricos, o número dos pobres aumentará enormemente. Os impostos que a Administração dos EUA perdoará aos multibilionários, amigos de Trump, não irão acorrer aos gastos com as despesas sociais dos mais desfavorecidos. O Estado servirá para criar as melhores condições para os multibilionários e as piores para os mais desfavorecidos que nos EUA são uns largos milhões.
Destarte há quem defenda que desta pirâmide social hão de escorrer sobras que aproveitarão aos pobres. Estas medidas geraram calamidades sociais nos EUA e na Grã- Bretanha com Ronald Reagan e Margaret Tatcher que iniciaram este tipo de políticas.
Sim, se os mais ricos ficarem ainda mais ricos porque o Estado se coloca ao lado dessa ínfima minoria, o efeito imediato é o alastramento da pobreza…
Um Estado enfraquecido, sem impostos que asseguravam uma certa redistribuição social, não poderá fazer frente a encargos sociais próprios de uma sociedade moderna que se paute por valores de dignidade humana.
Um em cada cinco habitantes do nosso planeta vive com um ou dois dólares por dia. Duzentas e vinte e cinco grandes fortunas possuem aproximadamente os rendimentos de dois mil e quinhentos milhões de pessoas, cerca de quarenta e dois por cento da Humanidade…
Seguramente que alguma coisa há de escorrer para os pobres vindo das sobras dos muito ricos, nem que sejam esses um ou dois dólares por dia. Ou as ajudas dos bancos alimentares. Alguém se lembrará dos pobres.
Quanto às sobras restará a ideia de que há seres humanos, nossos irmãos em humanismo, que aguardarão as sobras. Outros, uma percentagem absolutamente insignificante, poderão ter tanto como mais de quarenta e dois por cento da Humanidade.
Ao menos Trump assume o seu mundo. Por cá Belmiro de Azevedo também achava que com baixos salários se podia edificar um país decente… como se só ele se levantasse às sete horas.
Às sobras andavam exércitos de pedintes na Idade Média e no início da revolução industrial, batendo de porta em porta. Há sessenta anos Salazar ensinava que a pobreza punha à prova os que queriam ou não dar esmola. Eram um bem para fazer caridade.
Assumamos: deve metade da Humanidade viver de sobras? Para Trump sim. E daí muros a fechar o vizinho do Sul. E daí rasgar os acordos sobre alterações climáticas. E daí o boicote à Conferência mundial sobre as migrações. E daí zero de impostos para os super-ricos. Os pobres que se amanhem, ou não é por isso que são pobres?

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