Alguém
devia dizer ao Prof. Marcelo que se pretende garantir uma reeleição daqui a três
anos, o excesso de “aparições permanentes aos portugueses” talvez já sejam em
excesso e, portanto, poderão ter um efeito contraproducente.
Não
há telejornal em que o Presidente da República não apareça e isso começa a
enjoar muitos de nós até porque, na maior parte das vezes, as suas declarações pouco
acrescentam à informação que já possuímos. Que informação importante traz aos
portugueses uma ida de Marcelo Rebelo de Sousa a um barbeiro no Intendente?
O
actual mandato presidencial, “pleno de afectos”, é o tema do artigo de opinião
que o advogado Domingos Lopes assina no “Público” de hoje. Todo o texto é
atravessado por uma fina jocosidade que não passa despercebida ao leitor e que faz
com que se deseje que se prolongue tanto quanto possível. É um gozo lê-lo.
Num país com uma dose
mais que suficiente de basbaques, emparedado entre o ritmo frenético (para e
arranca) dos carros nas nossas ruas e a pressa de chegar a casa para papar as
notícias das televisões, é de assinalar a ida do Presidente Marcelo ao barbeiro
a abrir um telejornal de toalha branca a ser barbeado como se era antigamente.
A barbearia, segundo a notícia, fica no Intendente.
É justo reconhecer que
a ida a um barbeiro no Intendente, aliás como ir servir uma refeição a um
sem-abrigo ou ir almoçar ao Bairro da Bela Vista, em Setúbal, caem bem, o que
aliados a um mergulho nas praias de Cascais são contributos ímpares para o
cumprimento exemplar da sua função constitucional de Presidente da República.
Marcelo vai mais longe
que todos os anteriores Presidentes na interpretação do que deve ser o mandato
pleno de afetos e de aparições permanentes aos portugueses, fazendo-os
sentirem-se protegidos desde que se levantam até que se deitam e mesmo a meio
da noite, caso sejam incomodados por qualquer insónia.
Os media
esfregam as mãos. A política, desde que o diabo ficou no sítio onde dizem
estar, anda de desastre em desastre. É um desastre. Um aborrecimento. Marcelo é
o sal da vida, a garantia de audiências. Toda a gente está à espera dele.
O português perdido no
rio Orinoco, fugido de Maduro, segundo fontes insuspeitos.
A família da
professora desaparecida no rio Douro que ainda não apareceu e, no plano dos
afetos, há quem acredite que de acordo com a capacidade de mergulhar de Marcelo
a possa descobrir.
O piloto das linhas
aéreas da Norwegian que se viu na hora de aterrar sem flaps
e teve o acompanhamento permanente de Marcelo na abordagem à
pista do Porto Santo.
Mário Centeno, o novo
presidente do Eurogrupo, não esquece as palavras de Marcelo a lembrá-lo que ele
ainda é ministro da Finanças da República Portuguesa. Um aviso que António
Costa e o próprio Centeno levaram a sério, dadas as funções de cada um.
Os concessionários das
cantinas escolares aguardam impacientes que Marcelo se sente com os jovens
alunos para que de viva voz dê expressão ao movimento contra a obesidade que
está a despontar no país e que o PR quer impulsionar de Norte a Sul, incluindo
nos arquipélagos.
A dona Engrácia quer
ser vacinada contra a gripe, mas devido ao seu estado de saúde ela acredita
piamente que a vacina só funciona se a levar ao lado de Marcelo, dada a força
que tem o seu exemplo de captar afetos. Com esse doce afeto, a dona Engrácia
vai à vacina.
Os familiares das
vítimas de Legionella,
depois do falhanço do PSD em proibir a bactéria, viram-se agora para Marcelo
aguardando que ele confirme e certifique os resultados das autópsias realizadas
pelo Instituto de Medicina Legal.
Marcelo descobriu o
que já estava descoberto, mas a falta de capacidade operativa dos anteriores
caseiros de Belém impedia-os de aproveitarem o achado. Quem muito pouco tem,
contenta-se com muito pouco, um beijo, uma selfie,
um aceno e, vindo do mais alto magistrado da nação, é um bálsamo celestial.
Portugal é um país de
carências e de carentes, mesmo sendo o melhor destino do mundo. Se o Presidente
andar a acenar ao país saúde, sopa, sorte, habitação, fregueses para as
barbearias, portugueses para os bairros históricos, clientes para as farmácias,
e aos catalães para amarem Espanha e o rei, se continuar a aconselhar o que os
velhinhos devem fazer para não se engriparem, é certo e seguro que a sua
popularidade vai atingir cumes nunca antes vistos.
Tal conduta vai-lhe
exigir um esforço hercúleo, na medida em que para se manter no top
dos tops
tem de programar muito bem as suas múltiplas agendas, tendo em conta as
distâncias físicas dos diferentes estúdios televisivos. Provavelmente farão
diretos para que Marcelo não saia da primeira linha mediática.
O desinteresse de
Marcelo pelas coisas que flutuam ao sabor das correntes é de tal ordem que, no
caso de irregularidades aventadas pelos tesoureiros da Raríssimas, imperial,
apenas disse que era preciso investigar e de futuro evitar situações ilícitas,
caso existam. E certamente será investigada se a denúncia que chegou a Belém
era genérica ou concreta.
Por último, embora já
se tenha apresentado no Centro de Saúde de Sete Rios para se vacinar contra a
gripe, Marcelo ainda não disse nada sobre a tempestade Ana.
O país aguarda
ansiosamente que ele proclame que se formos atingidos por uma nova tempestade
ela não será Ana,
mas talvez Raquel,
que é o nome mais bíblico e dado a esta coisa de desgraças. Vem aí o Natal.
Marcelo vai servir bolo-rei.
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