A
ignóbil decisão de Trump reconhecer Jerusalém como capital de Israel veio, não
é demasiado repeti-lo, lançar gasolina para a situação explosiva que se vive no
Médio Oriente. É óbvio que não vai resolver nada, antes pelo contrário, vai
agravar o que já tinha atingido um ponto limite.
Neste
momento, a estratégia de Israel continua a ser a de ganhar tempo para que, num
futuro mais ou menos próximo, proceda a uma ocupação total do território
palestiniano e se dê este facto como irreversível. Confluindo para o mesmo ponto
está a actual politica de Netanyahu
no sentido do genocídio do povo palestiniano perante a passividade
internacional.
É,
pois, muito importante a divulgação da causa palestiniana de que pode ser
exemplo a publicação deste texto assinado por Abil Abuznaid, embaixador da
Palestina, que transcrevemos do Público de há dois dias.
A última
decisão, a do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, é
extremamente perigosa, contradiz com a Lei Internacional e destrói a esperança
de paz. Trump ofereceu o que não lhe pertence, ignorando o facto de que
Jerusalém não é um dos estados norte-americanos, muito menos uma das suas
torres. A decisão de Trump, não só legitima a ocupação, especialmente da cidade
de Jerusalém ocupada em 1967, como também contradiz com os próprios princípios
norte-americanos que apelam ao direito dos povos na autodeterminação, algo que
foi defendido pelo Presidente Wilson. Acredito que os palestinianos não são uma
excepção e fazem parte destes povos que aspiram pela sua independência.
O mundo
acredita que a solução deste conflito será estabelecer Jerusalém, a cidade da
paz e o berço das três religiões monoteístas, como capital dos dois Estados.
Como tal, a resposta a esta decisão foi absolutamente clara, o mundo reagiu
contra, até porque a decisão de Trump pode vir a mudar o conflito de político
para religioso, o que é muito perigoso. Parece-me impossível que o mundo
inteiro esteja errado e Trump certo.
Os
conflitos são causados pelos seres humanos e hão-de ser resolvidos pelos
mesmos. Não há conflito sem solução, e o conflicto palestino-israelita não é
excepção. E apesar da ocupação e da injustiça, o povo palestiniano acredita na
paz, por isso mesmo pensou em algumas soluções. No início da ocupação, o povo
palestiniano sugeriu a solução de um Estado laico, onde viveriam muçulmanos,
cristãos e judeus, entre outros, sob uma lei, onde todos seriam iguais nos seus
direitos e deveres, solução esta designada como a solução de um Estado. Esta
solução poderia ser a melhor e mais justa, mas, infelizmente, foi recusada, por
completo, pelo lado israelita.
Após a
rejeição da solução previamente indicada, surgiu então a solução de dois
Estados, o Estado da Palestina viveria ao lado do Estado de Israel nos
territórios ocupados em 1967 (Gaza e Cisjordânia, incluindo Jerusalém
Oriental). Segundo esta, o Estado da Palestina iria ser estabelecido em apenas
22% da Palestina Histórica enquanto Israel ficaria com 78%, um grande
sacrifício que a parte palestiniana está disposta a assumir em nome da paz. No
seguimento desta solução de dois Estados, surgiu a iniciativa árabe em 2002,
que consistia em: se Israel se retirar dos territórios árabes ocupados em 1967,
57 países árabes e muçulmanos não irão apenas reconhecer Israel, como também
irão normalizar as relações com este Estado. O que significaria que Israel iria
hastear a sua bandeira em 57 capitais árabes e muçulmanas, caso aceitasse este
projecto de paz. Esta iniciativa constituiria uma grande contribuição para
apoiar todo o processo de paz. Infelizmente, mais uma vez, Israel continua a
recusar a solução de dois Estados baseada na legitimidade internacional e no
consenso internacional, optando por uma terceira solução.
A terceira
solução que Israel prefere é a continuação do statu quo, ou seja, Israel quer a paz e também, ao mesmo
tempo, quer ocupar os territórios palestinianos. Isto é flagrante na política
israelita diária de confiscação de território, construção de colonatos e
mudança dos factos na terra. O custo desta solução é mínimo para Israel, mesmo
com a rejeição desta política pela comunidade internacional inteira. A política
de colonização é condenada, diariamente, pelos diferentes países do mundo, pois
viola as leis internacionais e o processo da paz. Todavia, Netanyahu sorri e
pensa: os palestinianos podem implorar por ajuda, a Europa e o mundo podem
condenar à vontade, nas formas mais absolutas, que eu irei continuar a
construir mais colonatos.
É a hora
de perceber que a condenação da política israelita é um medicamento que não
serve para a cura, nem muda as posições políticas israelitas. É a hora de ir
mais além, pensar e agir em algo que trave efetiva e decisivamente esta
política, salvando a solução de dois Estados. Se não for agora, não será
possível nunca mais. O povo palestiniano acredita e almeja que a paz se realize
através da justiça e não através da confiscação de terra, da construção de
muros, da opressão, em resumo, através da injustiça.
Finalmente,
e mesmo depois de tudo isto, o mundo pede aos palestinianos para terem
paciência, esperando que seja o oprimido a aguentar, ainda mais, a opressão.
Não acham que a paciência do povo palestiniano tem limites e que se esgotou
depois de 70 anos de injustiças? Não acham que já está na altura de o povo
palestiniano viver em liberdade e com dignidade no seu Estado da Palestina?
Termino com o que o líder negro, lutador pela paz e justiça,
Martin Luther King disse: “Uma injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à
justiça em todos os lugares.”
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