De uma longa entrevista de Francisco
Louçã ao Jornal i, publicada na sua edição de fim-de-semana (8/12/2017), aqui
destacamos algumas das afirmações do ex-lider do Bloco de Esquerda, por as
considerarmos mais importantes embora se aconselhe a sua leitura integral.
- O que mudou
substancialmente [em relação à crise de 1929] é que o setor financeiro é agora
muito mais poderoso e amplo, com muito mais relações com o setor público, que
em 1929-1930.
- Vinte cinco anos antes da
crise de 2007-2008 [o sistema financeiro] já tinha ganho uma enorme independência
em relação à capacidade de controlo público.
- A posição de Keynes é que não
era possível haver politica de gestão orçamental e de gestão política pública sem
um controlo sobre as taxas de juro.
- [Até à liberalização dos
movimentos de capitais com Thatcher e Reagan] toda a construção do capitalismo
moderno foi feita com o controlo dos Estados sobre as condições de acumulação de
capital.
- [Depois da crise do subprime, presidentes de bancos
centrais, governantes e principais partidos políticos] estão todos formatados
dentro dessa amálgama dessas políticas neoliberais, tendo a ideia de que o
mercado é que resolve as coisas.
- É evidente que na sequência
desta grande crise [2007] e durante a retoma medíocre, a grande preocupação das
organizações patronais é manterem o esvaziamento da contratação coletiva e a
capacidade reivindicativa dos trabalhadores.
- A concentração bancária
aumentou.
- Há uma bolha imobiliária na
China; há sobretudo uma bolha financeira na Europa com instituições que não são
capazes de responder a uma crise destas.
- Nas 1000 maiores empresas,
quase 500 pagam mais em custos financeiros do que em custos do trabalho.
- Se é possível ou não [um
processo de desglobalização e desfeinanceirização da economia] depende
completamente da correlação de forças e da vontade política.
- Agora, nós vamo-nos
aproximando de um novo colapso financeiro. (…) mas o certo é que entraremos
nesse colapso em condições muito mais degradadas do que tínhamos em 2007-2008.
- Na verdade, os países que
se protegeram melhor da crise do susubprime foram aqueles que tinham controlo
de capitais como a China, Coreia do Sul e outros países asiáticos.
- É preciso que haja controlo
público da banca.
- Nos estados constituídos
como tal, como é o caso de Portugal, a forma de responder à globalização e,
aliás, a única forma de disputar a relação de forças neste processo de globalização
é ter um Estado nacional.
- Uma política socialista é
uma política que constrói relações de forças e procura disputá-las; para o
fazer, tem de construir uma maioria popular.
- A política tem de estar
para além daquilo que é imediatamente possível.
- Só se pode combater a
finança sombra com uma ideia de rutura, porque se trata de um poder gigantesco.
Os resultados da Goldman Sachs são superiores ao PIB se 100 países do mundo.
eles tratam os governos como o contínuo da sua filial da Rua Augusta. Não há nenhum
caminho viável ou realista, para a esquerda, que não seja o enfrentamento com o
poder financeiro.
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