Humberto Delgado e “comício da liberdade” realizado no Porto, em 1958, foram esta noite evocados por Francisco Louçã, que, ressalvando não existirem comparações com o Estado Novo, sublinhou que foi na Invicta “que se fez o comício da liberdade”.
O líder bloquista subiu ao palco do Coliseu do Porto, o lugar escolhido para encerrar a campanha do Bloco de Esquerda (BE), com uma declaração solene: “Faltam 47 minutos para terminar esta campanha, mas falta uma vida inteira para fazer uma esquerda que ganha e responde aos problemas deste país.” Foi neste âmbito que lembrou Humberto Delgado e o monumental comício do candidato presidencial na Praça Carlos Alberto, no Porto.
Contudo, a mensagem mais importante do discurso do líder estava reservada para os primeiros votantes. Aos “primeiros eleitores, a quem nunca votou”, Louçã pediu para “fazerem a diferença”. “Esses novos eleitores farão já a diferença, defendem a sua geração”, disse, num claro apelo ao voto dos eleitores estreantes.
Diante de uma sala com cerca de 1700 pessoas e muito calor, Louçã garantiu que “agora nada será como dantes”. Porque a partir de segunda-feira, assegurou, a nova bancada do BE, eventualmente reforçada com a duplicação dos deputados, vai “ajustar contas com José Sócrates”. Nomeadamente nas áreas das “nacionalizações e da política económica”, destacou.
Louçã teve uma palavra especial de agradecimento irónico para Paulo Portas.
«Ele ia a uma prova de vinhos, ele ia a qualquer lado, ainda hoje quando foi à televisão, e elogiava sempre o Bloco de Esquerda», ironizou Louçã. Continuando o sarcasmo, o líder do BE trouxe à liça o episódio dos financimentos ilegais do CDS. «Espero que o Jacinto, o Capelo, o Jacinto Rego, todos tenham recebido a sua parte e todos tenham recebido o SMS para ir votar no CDS». A audiência recebeu o nome de Portas com um imenso assobio.
Os agradecimenos sem segundos sentidos foram entregues por Louçã a todos os que ajudaram a fazer a campanha.
Luís Fazenda, que antecedeu Louçã no palco do Coliseu do Porto, pediu aos eleitores para que “castiguem” o PS no próximo domingo. “Que lição tiraram?”, questionou, dirigindo-se àqueles que votaram nos socialistas em 2005. E, notando que o “castigo” que o PS sofreu nas eleições europeias “foi insuficiente”, pediu para os portugueses “irem mais longe”. “É preciso remetê-lo a um governo minoritário, travar a ofensiva liberal”, frisou.
Luís Fazenda que atacou os analistas e adversários do Bloco durante a campanha. «O regime uniu-se contra o Bloco», começou por dizer. «Nove em cada dez analistas usa uma espécie de shampoo anti-Bloco», disse de seguida, arrancando as primeiras gargalhadas.
Fazenda diz que o problema de quem critica o Bloco é que não o percebe. «Para eles nós somos a esquerda impossível. Dizem que somos muito ecléticos». A seguir deu a sua definição do BE: «Não abdicámos dos ideais de transformação revolucionária mas não fazemos deles um dogma».
Com a certeza de um grande resultado eleitoral, Fazenda comparou o BE a uma pandemia. «Não há vacina para o BE. Esta é a pandemia mais certa que vamos ter». Fazenda passou também em revista a actuação do grupo parlamentar que liderou. «Fomos a melhor oposição no Parlamento. Apresentámos a primeira moção de censura».
Para depois das eleições prometeu mais combate. «É preciso, ali, lei a lei, orçamento a orçamento travar a ofensiva liberal». E no domingo, há que «castigar o Partido Socialista».
O objectivo vai para além deste acto eleitoral, sugeriu Fazenda, dizendo que é preciso «ganhar forças para mais adiante abrir forças à grande esquerda».
Num último apelo ao voto, Fazenda, candidato à câmara do Porto, advertiu que, após as eleições de domingo e a confirmarem-se os resultados das sondagens, “não haverá vacina para o Bloco de Esquerda”. “Essa é talvez a pandemia mais certa que vamos ter nos próximos tempos.”
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