quarta-feira, 24 de outubro de 2012

CULTURA DE IRRESPONSABILIDADE

No artigo de opinião que hoje assina no Público, a terminar uma referência a Passos Coelho, Santana Castilho (SC) tem esta expressão demolidora: “dificilmente encontramos quem mais gravemente tenha ferido a confiança dos que acreditaram nele”.

De facto, se analisarmos todas as afirmações que produziu em período pré-eleitoral, quase não somos capazes de encontrar alguma que tenha tido correspondência directa na acção governativa. Parece impossível mas o que se verifica é uma completa contradição entre as palavras e os actos, no verdadeiro sentido da palavra, mal os votos acabaram de ser contados.

Ainda socorrendo-nos da memória de SC, merece referência um significativo exemplo da falta de credibilidade política do actual primeiro-ministro:

Em Novembro de 2010, Passos Coelho clamou para o país uma "nova cultura de responsabilidade", num jantar partidário em Viana do Castelo, promovido pelo PSD de Barcelos. Da sua intervenção saltou para o debate público, via Lusa, a defesa que fez da necessidade de responsabilizar os políticos, civil e criminalmente, por aquilo que fazem. "Quem impõe tantos sacrifícios às pessoas e não cumpre, merece ou não merece ser responsabilizado civil e criminalmente pelos seus actos?", perguntou então Passos Coelho. E, na mesma altura, afirmou: "Se nós temos um Orçamento e não o cumprimos, se dissemos que a despesa devia ser de cem e ela foi de 300, aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa também têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos e pelas suas acções. ... Não podemos permitir que todos aqueles que estão nas empresas privadas ou que estão no Estado fixem objectivos e não os cumpram. Sempre que se falham os objectivos, sempre que a execução do orçamento derrapa, sempre que arranjamos buracos financeiros onde devíamos estar a criar excedentes de poupança, aquilo que se passa é que há mais pessoas que vão para o desemprego e a economia afunda-se..."

E se fosse agora aplicado a Passos Coelho primeiro-ministro aquilo que Passos Coelho candidato defendia ainda há dois anos?

Outro exemplo gritante da falta de credibilidade reinante neste Governo tem a ver com o desfazer do mito da competência do ministro das finanças. Vitor Gaspar estimou que as receitas do IVA subiriam 11,6% e acabaram caindo 2,2%. Previu, em Março passado, que o encargo do Estado com o desemprego cresceria 3,8% e, em Agosto, já ia em 23%. O consumo público contraiu 3,2% em 2011 e a Comissão Europeia estima que contraia 6,2% este ano. O consumo privado caiu 4,2% em 2011 e a CE prevê que caia 5,9% este ano. E Gaspar ignora, quando orçamenta e taxa. E ignora o Tribunal Constitucional. E volta a ignorar, com arrogância e desprezo, o Presidente da República e o próprio FMI. Ignora tudo e todos. E ignora o "melhor povo do mundo", que esmaga com impostos em 2013.

Será que ainda podemos esperar deste Governo algum benefício da dúvida? Cada vez mais gente acredita que só teríamos a ganhar dando de novo a voz ao povo através de eleições antecipadas. É que, a legitimidade do voto conferido à actual maioria em 2011 não dá cobertura á fraude política e à mentira descarada.

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