O desemprego é o problema social número um dos tempos que correm. Ter trabalho, tornou-se um luxo. A toda a hora surgem dados que apontam para um crescimento cada vez maior das taxas de desemprego.
Ainda há poucos dias foram divulgados dados que apontam Portugal como o terceiro país da OCDE, depois da Grécia e de Espanha, onde a taxa de emprego mais caiu no segundo trimestre deste ano, face a igual período de 2011, recuando 2,4 por cento para os 62,3%.
A verdade é que só se cria emprego com investimento público ou privado. Em Portugal o investimento privado andou sempre atrelado ao investimento público. Não existindo este, o outro também não aparece. Além disso, sabe-se que o capital se está a deslocalizar da produção de riqueza para a especulação financeira. A criação de postos de trabalho é uma miragem mesmo a nível da União Europeia onde o número de desempregados atinge os 25 milhões.
Este é o tema para uma crónica que transcrevemos do Diário de Coimbra de 3 de Outubro último.
Desempregados na UE – 25 milhões
O Eurostat divulgou os números do desemprego na União Europeia, sendo certo que atingiu os 10,5 p.p., ou seja, mais de 25 milhões de pessoas sem trabalho. Em Portugal o desemprego está nos 16 p.p., com mais de 900 mil desempregados, sendo o valor mais alto de sempre. A dura realidade dos números das estatísticas, do Eurostat e do INE, revelam-nos um drama social com dimensão gigantesca porquanto cada desempregado vive na incerteza do futuro, isto é, sem saber quando poderá voltar a trabalhar. O desemprego de longa duração tem vindo a aumentar, contribuindo de forma acelerada para o aumento das dificuldades económicas e sociais das pessoas sem trabalho.
Na última década a estagnação económica do país tem vindo a acentuar o nosso declínio, mas a crise de 2008 veio acentuar as nossas debilidades estruturais ao provocar um acentuado aumento das falências e do desemprego. Os desempregados desta crise, são as vítimas de um capitalismo financeiro desregulado que está apostado em destruir a esperança num mundo melhor. O saque à classe média tem sido uma constante dos governos, sem que se saiba quando e como o mesmo irá terminar, pois neste capitalismo neoliberal nacionalizam-se as empresas com prejuízos e privatizam-se as que dão lucros.
A incerteza decorrente desta longa crise do sistema capitalista faz-nos recordar a crise de 1929, cujo epílogo desembocou na Segunda Guerra Mundial. O ambiente social e político gerado pelo elevadíssimo desemprego é propício às derivas totalitárias, já que poderá conduzir-nos ao caos social e à guerra. Neste contexto, os nacionalismos emergem como “cogumelos de irresponsabilidade política” dando voz ao elevado descontentamento que grassa um pouco por toda a Europa. Aqui ao lado, a Catalunha, poderá abrir a “caixa de pandora” dos nacionalismos espanhóis contribuindo para um ambiente de grande tensão social e política no nosso vizinho Ibérico e na Europa.
A taxa de desemprego jovem em Portugal está nos 36,5 p.p., sendo das mais elevadas da União Europeia, mas o desemprego representa a terceira mais elevada, depois da Grécia e da Espanha. A actual situação económica só poderá ser invertida com a intervenção do BCE, no sentido de criar as condições de financiamento mais favoráveis aos países do sul da Europa, através da emissão de Eurobonds, conjugando-se nestes países planos de austeridade (com prazos mais dilatados) associados a planos de crescimento económico suportados em financiamento comunitário.
O país está estagnado e desmotivado, na medida em que não conseguimos sair da crise (crónica) que assombra a nossa sociedade e cujas consequências são evidentes: mais impostos para os mesmos, menor consumo, menor crescimento económico, manutenção do elevado desemprego, maior afastamento do nível de vida médio da Europa e, acima de tudo, maior empobrecimento de todos aqueles que suportam s desmandos dos decisores políticos, cada vez mais incompetentes para resolver os nossos problemas estruturais.
O Euro forte tem beneficiado os países do norte da Europa, sendo necessário efectuar as adequadas “transferências financeiras” decorrentes dos benefícios obtidos para as suas economias. A solidariedade europeia deve ser uma prática a seguir, no contexto da actual crise, para que a União Europeia saia reforçada na economia global em que vivemos. Os lideres europeus precisam de mudar de rumo, com a máxima urgência, porque os níveis de desemprego estão a prejudicar a coesão social na Europa e, eventualmente, a paz que temos conhecido há mais de 60 anos.
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