Não há dúvida que os chamados partidos do arco governativo e que constituem aquilo a que muitos chamam a troika nacional são os principais responsáveis pela crescente desconfiança dos portugueses na democracia e nos partidos políticos. É com o maior desplante que os seus principais dirigentes prometem tudo e o seu contrário nas campanhas eleitorais e, mal os votos estão contados dão o dito por não dito parecendo estar a brincar com os seus eleitores. Tudo isto aconteceu muito recentemente com PS, PSD E CDS. O povo não é estúpido e, depois de ter dado durante muito tempo o benefício da dúvida perante os desmandos de que vem sendo alvo, chegada a hora de cobrar a factura, não vai perdoar a ninguém. Mesmo aqueles que não tiveram quaisquer culpas no descalabro a que chegámos e o denunciaram sempre correm o risco de ser levados na mesma onda.
O Congresso Democrático das Alternativas que terá lugar amanhã pode constituir um primeiro passo no sentido de ser gerado “um corpo de ideias que políticos honrados e generosos levem à prática” de modo a congregarem os portugueses à volta daquilo que é necessário fazer para se impedir a queda no abismo para que nos vêm empurrando. O tema do texto seguinte anda à volta desta problemática e é da autoria de um dos congressistas, Domingos Lopes.
E se lhes perguntarem o que prometeram? (*)
Um dos grandes problemas de democracia portuguesa é o crescente divórcio entre os portugueses e as instituições democráticas.
Os resultados de um recente inquérito referem que 87,6% dos portugueses desconfiam da democracia.
O principal fator que explica esta situação é a crescente desconfiança dos cidadãos nos partidos políticos, sobretudo os partidos que formam o arco do poder (PS, PSD e CDS).
Com efeito, estes partidos prometem o Céu e depois fazem os eleitores entrarem no Inferno.
Ficou célebre a frase de Paulo Portas a propósito da TSU... "Se me perguntarem"; ... "Se me perguntarem"..., sem que ninguém lhe tenha perguntado coisa alguma. Porém, se os portugueses lhe perguntarem o que prometeu nas feiras em relação às pensões dos reformados, ao nível de vida dos agricultores, à necessidade de reduzir os impostos, se ele tivesse vergonha, coraria de vergonha.
Em relação a Passos Coelho, se os portugueses lhe perguntarem a razão pela qual não aceitou as medidas de famigerado PEC IV, o que prometeu em relação aos impostos, ao compromisso de não tocar nos salários, de não mexer no IVA, ficariam a saber o que já sabem: não podem confiar em semelhante político.
Naturalmente que esta crise tão profunda e que coloca quase metade dos portugueses à porta da pobreza não favorece a distinção entre esta democracia com estes figurões e os valores democráticos, os mais adequados para que a sociedade possa encontrar os seus pontos de equilíbrio.
É como se estes cavalheiros se instalassem no topo das instituições para as minar por dentro e criar a convicção nos portugueses de que não há alternativas.
A democracia é em si um sistema capaz de gerar alternativas, mas estes figurões bombardeiam-nos todos os dias que Portugal só tem futuro empobrecendo. E quando o PS se agita, Passos Coelho e Paulo Portas atiram-lhes às ventas a assinatura do memorando...
O PS comprometeu-se com uns e com outros, apôs a sua assinatura no mesmo documento que Coelho e Portas, formando uma espécie de coligação para cumprir os desígnios dos burocratas cosmopolitas sem alma de Bruxelas.
O PSD e o CDS e os donos do dinheiro acreditavam que tinha chegado o momento de ir o mais longe possível na redução dos rendimentos do trabalho, sempre com a ideia de que se os bilionários ficarem mais ricos, os pobres passarão a ganhar com isso.
Para agravar esta situação, à esquerda, PCP e BE não dão um único sinal de entendimento nem entre eles, nem de encostar o PS às cordas.
As oposições para o serem têm de abrir espaços para que surjam alternativas, o que o PS rejeita, esperando que a direita se queime, faça o país empobrecer e lhe caia o poder nos braços... para continuar a saga e o divórcio.
A manifestação de 15 de Setembro para além de ser um altivo "não" à política do Governo, é também um grito contra esta incapacidade de gerar alternativas.
Os cidadãos querem que a sua voz se oiça. Querem tomar a política nas suas mãos. Querem que acabe o monopólio da sua representação por via dos partidos. Também para dar voz aos cidadãos, o Congresso das Alternativas que se realizará em 5 de Outubro vai debater estes temas.
Trata-se de abordar estes e outros temas e apresentar um conjunto de denominadores comuns, resultantes desse debate, aos portugueses e às portuguesas, sempre tendo em conta alternativas ao atual impasse. Do congresso espera-se a aprovação de um corpo de ideias que políticos honrados e generosos levem à prática.
(*) Público, 4/9/2012
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