Desde que o actual Governo começou a aplicar o chamado memorando da troika, com a promessa de ainda ir mais além, que vários sectores de esquerda – pejorativamente denominados “radicais” – começaram a alertar para o facto de a dívida ser impagável e a receita que está a ser aplicada à economia portuguesa vir a ter resultados contrários àqueles que nos prometiam. O resultado está à vista e, agora, são os mais acérrimos defensores da aplicação do memorando que começam a defender a renegociação da dívida. Um deles (pasme-se!) é exactamente Miguel Cadilhe sobre cuja mudança de posição escreve hoje no Pùblico (*), de forma irónica, José Vitor Malheiros.
A cada dia que passa, a teoria radical, esquerdista, anarquista, comunista, bombista, terrorista e cataclista (espuma ao canto da boca) da renegociação da dívida ganha mais adeptos. (Claro que não Pedro Passos Coelho, que se licenciou em Economia na Universidade Lusíada e que estudou afincadamente economia técnica, que é algo semelhante ao inglês técnico, mas em cadernos quadriculados.)
Desta vez foi Miguel Cadilhe que defendeu uma renegociação da dívida mas não a renegociação radical-esquerdista-anarquista-comunista-bombista-terrorista-e-cataclista (espuma ao canto da boca). Nada disso. Cadilhe defendeu na Fundação de Serralves a renegociação, mas uma "renegociação honrada". Antes de mais, o facto de ter sido numa conferência na Fundação de Serralves faz toda a diferença. Há quem defenda a renegociação em discursos na rua ou na Aula Magna, o que é sinal de esquerdismo. Mas uma renegociação honrada defendida em Serralves é outra coisa. Para benefício dos menos versados em questões financeiras, explico que a "renegociação honrada da dívida" está para a "renegociação da dívida" como "fazer amor à merceeiro" está para "fazer amor". É exactamente a mesma coisa, mas com um lápis na orelha.
(*) “Um problema de torneiras”, ponto 2.
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