A troika interna de Portugal não tem ponta por onde se lhe pegue. O Governo é de uma confrangedora incompetência mas a oposição “socialista” não lhe fica atrás. Imagine-se que, perante o estado a que o país chegou, o líder do maior partido da oposição não tem mais nada para nos propor senão a diminuição do número de deputados. Por aqui se pode depreender o que seria Seguro como primeiro-ministro.
Mas não nos alarguemos porque o texto seguinte que recolhemos do “Diário de Coimbra” de hoje é algo comprido mas muito interessante pela forma como põe a nu a incompetência delirante do ministro das Finanças.
Se alguma vez, na vida, Victor Gaspar tivesse jogado futebol, seria, com toda a certeza, do estilo chutar para onde está virado. Para desgraça de Portugal, não joga futebol. É ministro das Finanças e insiste em chutar para o lado errado, como a experiência tem provado.
O anúncio do mais recente pacote de austeridade já foi considerado, por Marques Mendes, como um “assalto à mão armada”, expressão que escuso de repetir. Gente que saberá menos de finanças públicas, como os prémios Nobel de Economia, Joseph Stiglitz e Paul Krugman estão cansados de avisar que a austeridade não resolve problema algum e, pelo contrário, está a afundar a economia europeia, impedindo qualquer recuperação. Mas isto é dito por dois prémios Nobel. As certezas de Victor Gaspar são outras, um mistério insondável, que ele nunca explicou ao país. Em 2005, questionei as opções políticas de José Sócrates, adiantando que, se alguma vez o défice fosse contido nos três por cento, nessa altura já não teríamos economia para relançar o país e, portanto, o défice e a dívida pública acabariam por aparecer de novo, em todo o seu esplendor. O tempo confirmou as minhas suspeitas. Pelo meio, houve a crise de Setembro de 2008, já na altura previsível, que veio agravar todo o quadro. Mas mesmo sem a falência do sistema financeiro, a economia portuguesa não conseguia evitar a destruição que lhe tem sido imposta, por estes dois últimos governos.
E não vai ser preciso esperar muito, para, dramaticamente, confirmarmos que todo este esforço proposto pela insensatez delirante de Victor Gaspar vai ser inútil. No final de Abril de 2013, teremos os números da execução orçamental do primeiro trimestre. E, sem margem para qualquer dúvida, serão eloquentes, mostrando a derrapagem, tanto do lado da despesa, como, sobretudo, da receita.
É evidente que com esta política de terrorismo fiscal, muitas mais empresas vão abrir falência, muitos milhares de portugueses ficarão desempregados, a procura interna vai cair ainda mais e, com ela, a receita do IVA. Nos meses seguintes, a colecta de IRS vai também dar um enorme trambolhão, porque o rendimento das famílias cairá estrondosamente. E, se Victor Gaspar nessa altura ainda for politicamente vivo, vai repetir a ladainha deste ano, dizendo que é preciso mais austeridade.
Estamos, no domínio do empirismo mais primário. Gaspar é um naif da economia que não sabe o que está a fazer. Tem apenas uma receita para o doente e vai aplicá-la repetidamente, sempre de forma ampliada, até ao momento do óbito. E não percebe que o doente já não está a morrer da doença, está a morrer da cura.
Chego a desconfiar que estaremos perante um discípulo de Nicolau Maquiavel que faz tudo isto, num insuspeito estilo eclesiástico, para precipitar a queda do Governo. Se assim for, talvez a justiça divina lhe perdoe tamanho sacrilégio. Mas atenção, vamos chegar a um momento decisivo – ou o Gaspar liquida o país, ou o país terá de liquidar o Gaspar para sobreviver. Claro que, se houvesse alternativa, este Governo já teria caído e só se vai aguentar porque, à esquerda, não se esboça outra solução.
António José Seguro e o PS querem manter o Governo de Passos Coelho. Temem eleições antecipadas. Não o dizem assim, preferem falar de estabilidade política. Por isso, não marcaram posição e a bancada socialista absteve-se, na votação das duas moções de censura. Dizia José Lelo, essa luminária da política, que não vale a pena votar uma moção de censura que está condenada à derrota. Um argumento absolutamente estulto. Se só vale a pena votar em causas ganhadoras, então que fazem os deputados da oposição no Parlamento? Sobra outra questão, ainda mais grave: de que vale agora o PS votar contra o Orçamento de Estado, se a maioria é suficiente para o aprovar?
Sousa Pinto acrescentou que o PS não se deve condicionar pela estratégia de outros partidos. Ouviram-se as mais diversas desculpas, cada uma mais disparatada que a anterior. Pensava eu que á vida parlamentar se faz, tanto de convergências como de rupturas. E, para isso, é necessário conjugar diferentes agendas e estratégias.
Portugal está a ser destruído pelo pior governo da história da República. Desgraçadamente, a oposição parece não ser melhor. Mas há homens e mulheres competentes, gente crescida e séria, que nos pode livrar desta geração, frivolamente fabricada na opacidade das jotas, uma versão paisana da Mocidade Portuguesa. Blindaram o sistema político, impedindo o acesso dos portugueses às instituições decisórias da República. O país definha todos os dias, às mãos da incompetência atrevida que não sabe o que fazer, perante uma crise que ameaça ser apocalíptica.
(*) Sérgio F. Borges
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