sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

RENEGOCIAR A DÍVIDA? CERTAMENTE QUE SIM! (1)



O Governo está a ser apanhado na teia por si próprio tecida.

Noticia hoje o Público que o Governo encarregou um grupo de “sábios” para a elaboração de uma proposta de Conceito Estratégico de Defesa Nacional. Este grupo é liderado por Luís Fontoura, professor universitário de Política Internacional e antigo vice-presidente do PSD.

Ainda segundo o Público, que teve acesso ao documento, “o grupo de 25 sábios chamados por Aguiar-Branco para redigir o documento de proposta defende políticas económicas que corrijam injustiças sociais, uma posição mais desconfiada em relação à UE e até a renegociação da dívida externa junto das instituições europeias”.

Ora bem, estamos esclarecidos. Aquilo que “esquerdistas”, “extremistas” e “radicais” vêm dizendo desde há muitos meses é agora reconhecido por quase toda a gente, nomeadamente por este “grupo de sábios” nomeados pelo Governo – a inevitável renegociação da dívida externa.

Nem de propósito, a Visão desta semana (6/12/2012) foi ouvir a opinião de “cinco directores das mais prestigiadas faculdades de Economia e Finanças do País” sobre se Portugal deve ou não renegociar a dívida.

O exemplo de João Duque, Presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) é paradigmático pois trata-se de uma personalidade perfeitamente alinhada com a ideologia da maioria de direita e, até há poucos meses, defensor acérrimo da política levada a cabo pelo Governo. Agora, a sua opinião mudou e entende que Portugal deve renegociar a dívida como se pode verificar pela sua declaração:

O serviço da dívida que a República enfrenta nos próximos anos é dramático. Exigirá que, ano pós ano e com a economia em cacos, se consiga captar, no mercado internacional, mais de 20 mil milhões por ano só em emissões de dívida de médio/longo prazo, o que, para Portugal, é absolutamente único. Note-se que nos últimos seis anos, só num ano (2010) fomos ao mercado financiar-nos em 17,9 mil milhões, sendo que, nesse ano, o total do financiamento em mercado tenha sido de 38,4 mil milhões. Com a economia e orçamento no estado em que estão, temo que estejamos a falar em necessidades brutas de financiamento, da ordem dos 50 mil milhões. Perante este quadro, parece inevitável que alguma coisa se faça. Podemos tentar renegociar as condições (juros) aplicadas, mas perante o tipo de credores da nossa dívida é difícil fazê-lo para além do grupo troika, que agora nos acena com a possibilidade de baixar 0,1% nas condições de uma das tranches dos empréstimos. Assim, reescalonar a dívida será o mais exequível. Mas é necessário perceber em que medida isso não compromete de todo a possibilidade de voltarmos ao mercado para procurar o financiamento de que necessitamos… A própria troika está disponível e é isso que devemos tentar a todo o custo. Mas sublinho, a questão está em saber de que modo se consegue fazer, tendo sucesso na operação. E o sucesso será medido através de dois simples indicadores:

1. Se é ou não com imposição unilateral;

2. Se, depois de se operar, conseguimos captar mais financiamento de médio/longo prazo fora da janela de três anos (que foi o prazo declarado pela União Europeia para autorizar a compra de títulos de dívida em mercado secundário aos países que, em dificuldades, sejam cumpridores).

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