Não
é novidade para ninguém que a maioria de direita não olha a meios para atingir fins.
Todos os argumentos, mesmo os mais torpes, valem desde que os objectivos
definidos sejam alcançados. Sejam ilegalidades, ameaças, chantagens, nada os
faz parar. Os dois últimos exemplos conhecidos foram a encomenda da avaliação
da investigação nacional e o truque da mais baixa política que constituiu o
modo como foi marcada a prova de avaliação dos professores.
Ambas
ainda vão fazer correr muita tinta mas o texto de José Vitor Malheiros (JVM) no
Público de hoje refere-se apenas ao primeiro dos exemplos atrás referidos.
Tendo em atenção o carácter pouco honesto da actuação
deste Governo, as suspeitas iniciais de muita gente, que recaiam sobre as reais
intenções relativamente à avaliação da investigação nacional, vão-se
confirmando aos poucos. Sem precisarmos ir muito longe, aquilo que o cidadão
comum medianamente informado já percebeu é que a verdadeira intenção da maioria
no poder é efectuar, a torto e a direito, cortes nas verbas destinadas a este
importantíssimo sector estratégico nacional. O pretexto foi uma avaliação meticulosamente
adaptada às reais intenções do Governo.
O
seguinte excerto do texto de JVM dá-nos algumas pistas sobre a forma com a
tramóia foi engendrada.
Vamos
ver se nos entendemos sobre a avaliação da investigação nacional actualmente em
curso pela European Science Foundation (ESF), sob encomenda da Fundação para a
Ciência e a Tecnologia (FCT):
1.
O problema não está no facto de a avaliação ter deixado de fora (entre unidades
sem financiamento e unidades com um financiamento residual) metade das unidades
de investigação.
O
problema está no facto de a FCT ter levado a cabo esse corte sem que essa
decisão fosse previamente objecto de discussão ou, no mínimo, de anúncio à
comunidade científica. Não se realiza um corte com esta violência sem o discutir
e defender no espaço público – a não ser que não existam quaisquer
argumentos que o possam sustentar.
O
problema está no facto de a FCT ter levado a cabo este corte sem que a
qualidade de muitas das unidades de investigação sacrificadas o justificasse.
Se este corte fosse a consequência de metade das unidades de investigação serem
medíocres, haveria muita gente a defendê-lo e a aceitá-lo, por muito doloroso
que fosse.
O
problema está no facto de a FCT ter mentido ao negar a existência de quotas
para o número de centros que passariam à segunda fase, quando o contrato
firmado entre a FCT e a ESF define claramente que apenas metade das unidades de
investigação deverão passar à segunda fase.
O
problema está no facto de a falta de vergonha e o sentimento de impunidade
serem tais que o presidente da FCT nega que tenham sido definidas quotas à ESF
numa entrevista publicada no mesmo número do PÚBLICO que revela o teor do
contrato FCT-ESF, onde essa claúsula aparece preto no branco não uma, mas duas
vezes.
O problema está no facto de
as notas de algumas unidades terem sido descidas de forma discricionária apenas
para se poder argumentar com uma suposta falta de qualidade científica para não
as passar à segunda fase. É completamente diferente ter uma boa avaliação
científica, mas não ter financiamento por falta de dinheiro e ver a sua
classificação degradada. É como se uma faculdade de Medicina, apenas por não
ter vagas para todos os candidatos, decidisse transformar os 19 valores obtidos
nas provas de acesso por um candidato numa classificação de 12 valores.
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