“Os
portugueses parecem paralisados pelo pavor de uma ausência de futuro” afirma
neste texto, reproduzido no Público, Domingos Lopes. Através de um olhar para a
realidade portuguesa actual, o antigo militante comunista perspectiva um futuro
pouco risonho para Portugal caso os nossos concidadãos não aceitem que o seu
futuro está aqui e não em Bruxelas.
Portugal,
em breve, assemelhar-se-á a um campo longilíneo de refugiados ao longo do mar.
Sem agricultura, sem pesca, sem indústria que possa competir na UE, Portugal
terá nas suas costas uma espécie de deserto a partir dos 30 a 40 quilómetros da
costa.
Nesse
interior abandonado, quase sem emprego, serviços de saúde, tribunais
repartições de Finanças e escolas, os jovens acumular-se-ão sempre e mais na
pequena faixa litoral, deixando em risco a própria existência do país que foi
herdado dos antepassados. Sem esperança e com uma taxa de mortalidade
superior à da natalidade, é o destino do país que está em causa, enquanto nação
independente.
Endividado,
incapaz de fazer do euro um meio de se afirmar na UE e no mundo, com dirigentes
políticos a baterem-se pelas suas coutadas, impotente para ganhar a confiança
popular que virou as costas às instituições, Portugal caminha ao sabor dos
ventos e entregue aos desígnios dos credores, os verdadeiros donos do país.
O
país está numa encruzilhada: ou continua o caminho da dependência e da pobreza
ou muda o rumo. No primeiro caso, continuará à mercê dos agiotas
internacionais que têm tido nos Governos portugueses os seus mandatários para
gerirem o país de acordo com os mandantes. A austeridade irá ser o eixo da
governação: punir os de baixo para que os de cima se tornem ainda mais ricos.
Virá, sem dúvida, o reino da pobreza. Uma sorte de punição por ter acreditado
numa vida com direitos.
O
país tornar-se-á “competitivo” com base em salários e nível de vida baixos e
ocupando na UE em lugar subalterno. As multinacionais cairão no país para
lhe sacar as suas riquezas. As reformas laborais irão continuar
provavelmente até ao dia em que não haja limite para as grandes empregadoras:
fim dos horários de trabalho, do salário mínimo, redução das férias, termo à
contratação coletiva…
Portugal
será aquilo que a UE e os seus credores querem que ele seja. A vontade dos
portugueses pouco contará, salvo se tiverem a coragem de mudar o rumo. E,
se a tiverem, irão seguramente travar um imenso debate acerca do futuro do país
no euro: a moeda única ajuda ou afunda-nos? É plausível que um pequeno país
periférico venha a receber ajuda suficiente da UE para recuperar dos seus
atrasos ou esses atrasos agravar-se-ão? E se sair do euro quais os problemas
que surgirão? O país tem força para os enfrentar? E que perspectiva abre o
regresso ao escudo?
Uma
maior integração de Portugal num projeto federalista dá garantias de que o país
contará com apoios que lhe permitam fazer frente aos atrasos ou significará o
seu abandono no quadro dos numerosos países-regiões atrasados em relação ao
Norte e Centro da Europa? Um debate aprofundado sobre esta matéria poderá
esclarecer o modo como Portugal deve abordar os modos de enfrentar uma crise
que já vem dos séculos passados, ou seja, a incapacidade de produzir o
suficiente para endireitar as suas contas.
A
política seguida vai no sentido de tornar o país mais pobre no seu conjunto,
virando-o para um certo tipo de exportações que não garantem, em grande medida,
a sua constância e continuidade. Além de que até agora as exportações não
chegam para pagar as importações.
Para
agravar toda a situação, esta linha condutora da ação governativa aprofunda o
fosso entre uma ínfima minoria cada vez mais rica (uma camada da burguesia
compradora) e a imensa maioria, cada vez mais pobre, levando a que a classe
média se aproxime mais e mais das camadas mais desfavorecidas.
Esta é a realidade. A União
Europeia privilegia o monetarismo e o liberalismo, o que acarreta para Portugal
um papel secundaríssimo, dado o peso da divida e o seu pouco
desenvolvimento. Conduzidos como cidadãos sem vontade, paralisados pelo
pavor de uma ausência de futuro, os portugueses vão ter de acordar e aceitar
que o seu futuro está em Portugal e não em Bruxelas. Vai custar. Mas será
inevitável se quiserem ser verdadeiramente livres e senhores do seu país.
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