Por
muito que o Governo nos queira convencer do contrário, a brutal austeridade que
se tem feito sentir em todos os sectores públicos, particularmente no da saúde
está a ter consequências dramáticas. Seria impossível que tal não acontecesse
porque, como diz o povo, não se fazem omeletas sem ovos. A realidade vem sendo
escondida por manobras propagandísticas de diversão mas, a intenção do
Primeiro-Ministro ir “além da troika”, como bem realçou, foi aplicada na saúde
pública, com todas as letras… O Serviço Nacional de Saúde está, declaradamente,
“a perder as suas características de equidade, universalidade e integração” como
refere, e bem, no Diário de Coimbra de ontem, Carlos Cortes, Presidente da
Secção Regional do Centro da OM.
Não
é, pois, por acaso, que está marcada para os próximos dias 8 e 9 de Julho (terça
e quarta) uma greve dos médicos, como apoio bem explícito da respectiva Ordem, assim
como uma manifestação em Lisboa no próprio dia 8.
Muito
tem sido escrito, falado e debatido sobre a degradação da saúde em Portugal,
nestes últimos meses.
Tem
havido razões mais que suficientes para este ruído permanente. A começar pelas
páginas dos jornais, pelas aberturas dos telejornais ou pelos boletins
radiofónicos informativos, passando pelas conversas de rua ou pelas queixas nos
próprios hospitais ou centros de saúde.
Todos
nós sabemos que o discurso idílico proferido pelos agentes do Ministério da
Saúde não tem tradução na realidade diária. Ainda esta semana, a publicação do
Relatório da Primavera 2014, pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde,
tem um nome elucidativo – “Saúde: Síndroma de Negação”.
Serviços
desorganizados por reestruturações hospitalares, Cuidados de Saúde Primários
secundarizados, falta de uma verdadeira reforma hospitalar, cascatas de decisões
descontextualizadas da realidade nas unidades de saúde, profissionais
desmotivados e doentes desprotegidos e desiludidos. Sem esquecer as dificuldades
crescentes no acesso à saúde, com o aumento das taxas moderadoras, falta de
recursos humanos e técnicos e dificuldades nos transportes. O Serviço Nacional
de Saúde está a perder as suas características de equidade, universalidade e
integração.
Recentemente,
traduzindo estas insuficiências, várias chefias apresentaram a sua demissão
(diretores de serviço no Hospital de S. João, no Porto, Diretora Clínica na
Universidade Local de Saúde da Guarda, reconhecimento do caos nas Urgências). O
próprio Primeiro-Ministro veio dar razão às reivindicações dos diretores
demissionários e o Ministro da Saúde apressou-se a responder às denúncias de
falta de meios para manter a funcionar convenientemente o hospital de S. João. A
falta de médicos denunciada no Algarve – como se isso fosse inédito nesta época
do ano – também está a ser apressadamente resolvida.
As
organizações médicas têm vindo a alertar os dirigentes do Ministério da Saúde
para o verdadeiro colapso que se antevê para o sector.
Mas
os silêncios e as intenções soltas nada têm resolvido e só têm servido para
agudizar o grave momento que estamos a atravessar.
A
sustentabilidade do sector tem sido a desculpa para uma opção política clara de
desinvestimento nos hospitais e centros de saúde. O subfinanciamento da Saúde,
fruto da crise económica, foi aprofundado, muito além do exigido pela troika,
por decisão voluntária do Ministério da Saúde.
Dias
8 e 9 de Julho, os Médicos decidiram lançar um alerta claro ao Ministério da Saúde,
ao defenderem a qualidade dos serviços de saúde, ao criticarem os encerramentos
previstos de serviços clínicos, ao pedirem condições adequadas para poderem
prestar cuidados de saúde de qualidade aos seus doentes.
Dia
8, os Médicos e a população estarão em Lisboa para manifestarem o seu
descontentamento e exigirem a dignidade que o sector da saúde merece.
Eu
estarei presente nesta causa cívica pela defesa da Saúde!
As sirenes de alarme apitam e
ofuscam toso o sector, infelizmente a surdez e a cegueira estão disseminados no
Ministério da Saúde.
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