Com
87 palestinianos mortos, este domingo em Gaza é já considerado o dia mais
sangrento desde que se iniciou mais uma ofensiva israelita (8 de Julho). A
actualização do número de vítimas acaba por ficar sempre aquém do que se está a
passar no terreno, a todo o momento.
A
ofensiva começou há 12 dias e, neste período de tempo, foram mortos mais de 400
palestinianos e duas dezenas de israelitas. A maioria dos mortos palestinianos
são civis.
A propósito de mais este crime perpetrado pelo
governo de Israel, é bom recordar um texto da autoria de cinco membros do
Comité de Solidariedade com a Palestina (*) publicado no Público de ontem, onde
se comenta um artigo de opinião da embaixadora israelita, Tzipora
Rimon.
Se
fosse precisa mais alguma prova do carácter de Israel como regime de apartheid,
o PÚBLICO teve o mérito de publicá-la, na forma de um artigo de opinião da
embaixadora israelita, Tzipora Rimon. Depois de ter sofrido uma baixa mortal
(dizemos bem: uma!), e de ter causado 200 (até agora), Israel vem ainda
dizer-nos pela voz da diplomata quanto preza a vida humana.
Não
pomos em dúvida os vultosos investimentos israelitas para colocar abrigos
seguros, em poucos minutos, ao alcance dos seus cidadãos. Mas as únicas
"vidas humanas" que importam ao regime racista israelita são as dos
seus cidadãos judeus. Não contam, para esse regime de apartheid, as vidas dos
palestinianos-israelitas, as dos palestinianos cercados de Gaza, as dos
palestinianos sujeitos à ocupação na Cisjordânia e em Jerusalém. Essas podem
ser sacrificadas às centenas, tanto as de adultos como de crianças.
Tsipora
Ramon procura ainda atenuar esta evidência de desprezo pelas vidas
palestinianas, afirmando que "as forças de Israel esforçam-se também por
diminuir a escalada e minimizar as baixas palestinianas, nomeadamente ao usar
telefonemas, SMS, largando panfletos para avisar os cidadãos
Incrível
cinismo! Quando sabemos que cerca de 100.000 civis da Faixa de Gaza receberam já
estas intimações para abandonarem as suas casas, é claro que se trata de mais
uma escalada na campanha israelita de limpeza étnica. E a alegação da diplomata
é duplamente cínica, quando sabemos que um em cada cinco habitantes de Gaza é
intimado a partir (com um prazo de três minutos) precisamente quando está
cercado e não tem para onde ir.
Assim
começou também, nos anos 30, o extermínio dos judeus na Alemanha nazi –
intimados a partirem, para países estrangeiros que lhes fechavam as portas. A
lógica genocida do nazismo começou precisamente com esta mensagem, no caso
dirigida aos judeus: não vos queremos cá, mas ninguém vos quer em lado algum.
Por isso se juntam hoje ao boicote contra o regime israelita de apartheid
e limpeza
étnica todos aqueles judeus que não apagaram a memória de gerações passadas.
(*) André Trassa, Elsa Sertório, João
Jordão, Shahd Wadi e Teresa Cabral, em nome do Comité de Solidariedade com a
Palestina
Sem comentários:
Enviar um comentário