Muito
justamente, Nicolau Santos (NS) escreveu ontem no Expresso Economia um pequeno
texto de homenagem àqueles que foram assassinados no “hediondo ataque à sede do
“Charlie Hebdo”, em Paris”, relembrando, ao mesmo tempo, o quase meio milhar de
jornalistas mortos de forma violenta, no exercício da sua profissão, entre 2010
e 2014. NS também recorda e muito bem que os “inimigos da democracia não
suportam ser expostos – nem ridicularizados”. Inteira verdade.
De
qualquer maneira, os “inimigos da democracia” podem ser encontrados debaixo de
muitas capas até do próprio regime democrático. Na manifestação de hoje em
Paris, entre uma esmagadora maioria de genuínos defensores da liberdade – é preciso
realçar – acoitaram-se alguns dos seus mais acérrimos inimigos. Citemos, por
exemplo, Benjamin Netanyahu que compareceu na manifestação
para se poder apresentar como defensor de valores civilizacionais quando apertar
o cerco às populações da faixa de Gaza, designando-os como perigosos
extremistas. Outro exemplo, bem mais próximo de nós, é Merkel e a sua chantagem
sobre os gregos relativamente à possibilidade de votarem uma mudança de orientação
política no próximo dia 25 de Janeiro, num acto de puro exercício democrático.
As máfias, os corruptos, os
ditadores, os torcionários, os extremistas, os radicais mataram 105 jornalistas
em 2010, 103 em 2011, 119 em 2012, 71 em 2013 e 66 em 2014. Eram profissionais
de jornais, agências, televisões, rádios. Usavam a palavra escrita ou dita, a
imagem parada ou em movimento para mostrar, denunciar, interrogar, inquietar,
fazer pensar. Faltavam os que fazem o mesmo, mas utilizando o humor e a
caricatura. A partir de 7 de Janeiro, os radicais islâmicos, num hediondo
ataque à sede do “Charlie Hebdo”, em Paris, enviaram para essa redação de
mártires do jornalismo a classe que faltava: os cartoonistas. Os inimigos da
democracia não suportam ser expostos – nem ridicularizados. Daí este massacre. Mas
como disse Charb, diretor do “Charlie” e uma das vítimas, é preferível morrer
de pé a viver de joelhos. É por isso que esta profissão é tão apaixonante. E é
por isso que não nos intimidam nem calarão o humor cáustico do “Charlie”.
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