domingo, 11 de janeiro de 2015

INIMIGOS DA DEMOCRACIA


Muito justamente, Nicolau Santos (NS) escreveu ontem no Expresso Economia um pequeno texto de homenagem àqueles que foram assassinados no “hediondo ataque à sede do “Charlie Hebdo”, em Paris”, relembrando, ao mesmo tempo, o quase meio milhar de jornalistas mortos de forma violenta, no exercício da sua profissão, entre 2010 e 2014. NS também recorda e muito bem que os “inimigos da democracia não suportam ser expostos – nem ridicularizados”. Inteira verdade.
De qualquer maneira, os “inimigos da democracia” podem ser encontrados debaixo de muitas capas até do próprio regime democrático. Na manifestação de hoje em Paris, entre uma esmagadora maioria de genuínos defensores da liberdade – é preciso realçar – acoitaram-se alguns dos seus mais acérrimos inimigos. Citemos, por exemplo, Benjamin Netanyahu que compareceu na manifestação para se poder apresentar como defensor de valores civilizacionais quando apertar o cerco às populações da faixa de Gaza, designando-os como perigosos extremistas. Outro exemplo, bem mais próximo de nós, é Merkel e a sua chantagem sobre os gregos relativamente à possibilidade de votarem uma mudança de orientação política no próximo dia 25 de Janeiro, num acto de puro exercício democrático.
As máfias, os corruptos, os ditadores, os torcionários, os extremistas, os radicais mataram 105 jornalistas em 2010, 103 em 2011, 119 em 2012, 71 em 2013 e 66 em 2014. Eram profissionais de jornais, agências, televisões, rádios. Usavam a palavra escrita ou dita, a imagem parada ou em movimento para mostrar, denunciar, interrogar, inquietar, fazer pensar. Faltavam os que fazem o mesmo, mas utilizando o humor e a caricatura. A partir de 7 de Janeiro, os radicais islâmicos, num hediondo ataque à sede do “Charlie Hebdo”, em Paris, enviaram para essa redação de mártires do jornalismo a classe que faltava: os cartoonistas. Os inimigos da democracia não suportam ser expostos – nem ridicularizados. Daí este massacre. Mas como disse Charb, diretor do “Charlie” e uma das vítimas, é preferível morrer de pé a viver de joelhos. É por isso que esta profissão é tão apaixonante. E é por isso que não nos intimidam nem calarão o humor cáustico do “Charlie”.

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