A
direita e os seus muitos porta-vozes na comunicação social, quando não têm
outro tema para denegrirem o Syriza, servem-se do nome deste partido para
amedrontarem a população já que na composição da sua designação aparece a
palavra “radical”. É uma espécie de lobo mau que surgiu na Grécia por via
democrática que se prepara para aterrorizar os povos europeus apenas por
denunciar a miséria em que vive, o povo helénico, subjugado ao peso de uma
dívida que jamais conseguirá pagar. Curiosamente, os mesmos manipuladores da
palavra “radical”, nunca se lembraram de constatar que a designação de nenhum
dos partidos da rotatividade governativa corresponde à sua prática. O PS não é “socialista”,
o PSD não é e quase nunca foi social-democrata e o CDS não tem nada a ver com um
partido centrista situando-se sim na área da direita radical. Mas onde a denominação
“radical” assenta melhor nesta altura é sobre o capitalismo actual como se pode
ler no seguinte texto (*) transcrito do Diário as beiras de hoje.
Embora
o Syriza inclua na composição da sua designação a palavra radical, está longe
de poder ser considerado um partido radical. Trata-se de um autêntico partido
de esquerda, de espetro longo, com algumas semelhanças com o nosso BE. Ocupa um
espaço político deixado livre pela deriva dos socialistas para o centro e pelo
isolamento do partido comunista, mais preocupado em assegurar a sua
sobrevivência. O que é radical na verdadeira acessão da palavra é o capitalismo
dos dias de hoje. A política do FMI é radical quando aplica uma taxa de 5% aos
empréstimos à Grécia e a Portugal. Quantos negócios sérios dão lucros de 5%
durante 5 ou 10 anos? Pior, como se pagam anos a fio 5% de juro quando o
crescimento na melhor das hipóteses não descola de 1 ou 2%.
O
capitalismo financeiro é radical quando permitiu uma fraude de cerca de 130 mil
milhões de euros, só em 2013 graças apenas a esquemas resultantes do segredo
bancário (ver G. Zucman, “A riqueza oculta das nações”, Temas e Debates, 2014).
Esta quantia seria suficiente para resolver a crise das dívidas de vários
países europeus.
O
capitalismo financeiro é radical quando permite esquemas de otimização fiscal através
de compra e venda a preços fictícios entre sucursais de multinacionais como
muito provavelmente fará a Jerónimo Martins e outras empresas com sede na Holanda.
(*) Rui
Curado da Silva, investigador
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