domingo, 18 de janeiro de 2015

TAP: O GOVERNO NÃO QUER VENDER A TRANSPORTADORA?


Com o sugestivo título “A TAP não vai ser vendida” e fazendo apelo ao sentido de fina ironia que lhe é característico, Nicolau Santos (NS) conclui, num pequeno texto que assina no Expresso Economia de ontem, que, pelo caderno de encargos que o Governo apresenta aos interessados na compra da transportadora, nenhum se chegará à frente para comprar a TAP. É pena que NS não argumente sobre a decisão do Executivo sabendo-se que em anteriores privatizações foi parco em impor condições aos novos donos. Sem entrarmos em especulações abusivas, pensamos que poderá haver duas explicações plausíveis para o que está a acontecer: a luta dos trabalhadores e a proximidade de eleições.
O tão propalado acordo com “os” sindicatos deixou de fora as organizações mais representativas dos trabalhadores da empresa o que não garante o fim do processo reivindicativo. Por outro lado tem-se verificado uma certa encenação do Governo, como que a mostrar músculo numa suposta defesa dos interesses dos portugueses perante situações em que em anos anteriores mostrava um total laxismo.
Será que poderemos imaginar que a TAP não será, para já, privatizada?
Parem as máquinas: o Governo não quer vender a TAP! A notícia, surpreendente, está confirmada depois de ser conhecido o caderno de encargos que terá de ser cumprido por quem estivesse interessado em comprar a transportadora. Com efeito, para um governo que tem privatizado empresas atrás de empresas sem impor nenhumas condições e aceitando tudo o que os novos donos têm feito sem um pio (aumento de tarifas, transferência de centros de decisão, etc.), é extraordinário que agora exija que não haja despedimentos na TAP, que se proteja, para além do limite legal (!), os acordos de empresa, que haja mecanismos de salvaguarda às antiguidades, carreiras profissionais e responsabilidades com pensões e seguros de saúde e vida, que seja limitado o recurso ao “outsourcing” e ao trabalho externo, etc., etc. Na prática, o pai quer casar a noiva, mas engessada: o noivo praticamente não lhe pode tocar. Depois deste caderno de encargos, estou muito mais descansado: a TAP não vai ser privatizada. Não por este Governo.

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