Com
o sugestivo título “A TAP não vai ser
vendida” e fazendo apelo ao sentido de fina ironia que lhe é característico,
Nicolau Santos (NS) conclui, num pequeno texto que assina no Expresso Economia
de ontem, que, pelo caderno de encargos que o Governo apresenta aos
interessados na compra da transportadora, nenhum se chegará à frente para
comprar a TAP. É pena que NS não argumente sobre a decisão do Executivo
sabendo-se que em anteriores privatizações foi parco em impor condições aos
novos donos. Sem entrarmos em especulações abusivas, pensamos que poderá haver
duas explicações plausíveis para o que está a acontecer: a luta dos
trabalhadores e a proximidade de eleições.
O
tão propalado acordo com “os” sindicatos deixou de fora as organizações mais
representativas dos trabalhadores da empresa o que não garante o fim do
processo reivindicativo. Por outro lado tem-se verificado uma certa encenação do
Governo, como que a mostrar músculo numa suposta defesa dos interesses dos
portugueses perante situações em que em anos anteriores mostrava um total
laxismo.
Será
que poderemos imaginar que a TAP não será, para já, privatizada?
Parem as máquinas: o Governo não
quer vender a TAP! A notícia, surpreendente, está confirmada depois de ser
conhecido o caderno de encargos que terá de ser cumprido por quem estivesse
interessado em comprar a transportadora. Com efeito, para um governo que tem
privatizado empresas atrás de empresas sem impor nenhumas condições e aceitando
tudo o que os novos donos têm feito sem um pio (aumento de tarifas, transferência
de centros de decisão, etc.), é extraordinário que agora exija que não haja
despedimentos na TAP, que se proteja, para além do limite legal (!), os acordos
de empresa, que haja mecanismos de salvaguarda às antiguidades, carreiras
profissionais e responsabilidades com pensões e seguros de saúde e vida, que
seja limitado o recurso ao “outsourcing” e ao trabalho externo, etc., etc. Na
prática, o pai quer casar a noiva, mas engessada: o noivo praticamente não lhe
pode tocar. Depois deste caderno de encargos, estou muito mais descansado: a
TAP não vai ser privatizada. Não por este Governo.
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