terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SOMOS GRÉCIA


Muitos dos governantes que (supostamente) se manifestaram em Paris apenas o fizeram para ficar na fotografia dos defensores da liberdade embora, na prática, sejam grandes adversários, senão mesmo inimigos da democracia. No mundo actual há muito mais governantes do que se pode imaginar que têm um medo atroz do voto popular. O sistema dominante tem um cariz totalitário e, por isso, não tolera opiniões nem acções contrárias à doutrina neoliberal. Enquanto os eleitores vão fazendo vista grossa às malfeitorias que continuam a sofrer, e mantêm no poder os partidos do arco do sistema, tudo bem. O pior é quando surge no horizonte a possibilidade de ser dada uma oportunidade a uma alternativa com ideias novas que colocam em causa muitos interesses instalados. Aqui, surgem as brutais pressões para que a democracia não se cumpra e tudo permaneça inalterado. É exactamente o que está agora a acontecer relativamente à Grécia e à possibilidade de uma vitória do Syriza nas eleições do próximo dia 25 de Janeiro.  
É a hora de todos aqueles que não têm medo da democracia afirmarem a sua solidariedade e respeito pelo povo grego num momento que pode ser de viragem democrática para toda a Europa. O texto seguinte (*) que transcrevemos do Público de ontem dá uma ajuda ao desenvolvimento deste nosso raciocínio.
A Europa volta a ser assolada pela crise grega. Schäuble reafirma a necessidade de disciplina para continuar o rigor. Tsipras pode ganhar as eleições. De imediato, as Cassandras, Berlim prepara uma eventual saída da Grécia do euro. O perigo não vem de Atenas. A propagação vem dos bancos. Há seis anos, Conselho e Comissão Europeia trataram a dívida soberana como temporária falta de liquidez, negando a insolvência do estado e dos bancos. No verão de 2010 foram injectados 109 mil milhões de euros, passado um ano mais 110 mil milhões, dos quais 37 mil milhões de credores privados com a contrapartida da redução em 50% dos títulos detidos. A dívida foi convertida em obrigações de longo prazo, os juros baixaram, os governos da zona euro garantiram e as perdas nos créditos concedidos em excesso (default) reconhecidas. Reestruturada a dívida, a economia não arrancou. O PIB reduziu-se em 30%, desde 2009; o desemprego atinge 26% (50% entre os jovens); fecharam mais de 200 mil PME; a dívida pública representa 177% do PIB (320 mil milhões de euros) era de 125% no início da crise. A estratégia oficial recapitalizou os bancos e transferiu a sua exposição ao risco para as finanças públicas e para os contribuintes. As convulsões sucedem-se e a miséria alastra. Hoje, a Grécia vive a revolta dos devedores, como lhe chamou De Grauwe. Uma revolta contra o diktat do lobby bancário que tolhe a iniciativa das autoridades europeias e nacionais para negociar com os credores privados do Norte. Tsipras quer acabar com a austeridade e negociar com Bruxelas uma solução equilibrada para resgatar a Grécia. E a Europa tem que decidir entre o make-or-break, o êxito ou fracasso do Projecto Europeu. Os gregos merecem respeito e solidariedade.
(*) João Ferreira da Cruz, economista

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