Desde
que foram conhecidos os resultados da eleições gregas do dia 25 de Janeiro que
se nota de forma evidente ao ponto a que chegou o radicalismo ideológico em que
já se vive. Uns por ignorância, outros, a maioria, por má fé, apelidam com o
maior despudor o Syriza, partido vencedor, de extrema-esquerda e os seus aliados
de extrema-direita. Uma análise fria da realidade aponta diferenças
significativas entre as duas formações partidárias mas o seu afastamento
ideológico não é tão grande como se pretende fazer crer à opinião pública,
intencionalmente no sentido de denegrir a acção do actual governo grego, democraticamente
eleito.
A
verdade é que a vitória do Syriza pode levar a uma desestruturação no rotativismo
do poder, por essa Europa fora, e é isso que está a provocar uma enorme azia em
muitos grupos instalados que não estavam à espera de tamanho abalo. As propostas
do partido vencedor das eleições gregas, apelidadas pelo nosso excelso
primeiro-ministro de “brincadeiras de criança”, podem afinal abrir caminhos
nunca antes imaginados. Mais do que isso, os portugueses podem mesmo sair
beneficiados, ainda que a contragosto dos nossos governantes.
A
propósito, leia-se este pequeno mas interessante texto que encontrámos hoje no
Diário as beiras:
Em
Portugal,
pelo menos, a narrativa nas entrelinhas da vitória do Syrisa não é
essencialmente ideológica.
Certo que haverá uma dúzia de românticos
a suspirar por uma guinada à esquerda na política
nacional, mas o que está em causa não é tanto o equilíbrio
entre a esquerda
e a direita,
como será a própria resiliência do regime.
Há
quem use a palavra resiliência para significar resistência, mas ela é muito
mais do que isso. É a propriedade de um corpo recuperar a sua forma original
após sofrer choque ou deformação.
E
o regime democrático português tem sido assim mesmo, resiliente. Às vezes muda
um pouco, mas para que tudo fique na mesma.
A
questão que se coloca é, portanto, a de saber se as ondas de choque resultantes
da vitória de um partido dito marginal são de tal intensidade que possam
introduzir uma deformação nos nossos equilíbrios de poder, em termos que ponham
em causa a sua resiliência.
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