O
texto que o prof. Boaventura Sousa Santos assina esta semana na Visão (*) tem o
título sugestivo de A segunda libertação
partindo da intervenção militar da Alemanha nazi na Grécia, durante a Segunda Guerra
Mundial, e da coragem revelada pelo povo grego no combate ao invasor. Actualmente
a resistência dos gregos tem como principal arma o voto democrático para
demonstrar que há alternativas às políticas de austeridade radical impostas aos
povos do sul da Europa pela ortodoxia dominante. O resultado é que se verificou
que a ortodoxia tremeu e isso é um excelente sinal de que o dogma da inexistência
de alternativas às políticas actuais terá os dias contados.
(*)
A vitória do Syriza teve o sabor de uma segunda libertação da Europa. A
primeira ocorreu há setenta anos, quando os aliados libertaram a Europa do jugo
alemão nazi e puseram fim ao horror do holocausto. Um dos países que mais
sofreu por mais tempo com a ocupação nazi e suas consequências foi a Grécia. A
geoestratégia dos aliados fez com que à libertação se seguisse uma guerra civil
para impedir que os patriotas comunistas e seus aliados chegassem ao poder. Num
contexto democrático, e ante um poder alemão, agora económico e não militar e
disfarçado de ortodoxia europeia, os gregos voltam a revelar a mesma coragem de
enfrentar adversários muito mais poderosos e de mostrar aos povos europeus, que
sofrem as consequências do jugo dessa ortodoxia, que é possível resistir, que
há alternativas e que é preciso correr riscos para que algo mude sem tudo ficar
na mesma.
Tenho
escrito que o capitalismo só é inflexível até sentir a necessidade de se
adaptar às novas condições. Digo capitalismo e não União Europeia porque neste
momento os interesses do capitalismo global são os únicos que contam nas
decisões dos órgãos decisórios europeus. Se esta hipótese se confirmar, o risco
assumido pelos gregos foi calculado e é possível que os portugueses, os
espanhóis, os italianos e, em geral, todas as formigas europeias da fábula de
Esopo possam beneficiar do aperto a que serão sujeitas as cigarras do norte e
do sul (o sistema financeiro, os bancos e as oligarquias). Para já, estamos num
momento alto de política simbólica, comunicação indireta, suspensão informal
das regras de jogo, não provocação do "adversário" para além do
necessário, fronteira ambígua entre o negociável e o inegociável. Mas a
ortodoxia tremeu, e o tremor da sua bancada subalterna foi, como era de esperar,
o mais patético. No caso português, indigno.
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