Apesar
de todos os truques usados pelo Governo para mascarar o desemprego durante seis
trimestres consecutivos, a verdade é que, conforme dados do Instituto Nacional
de Estatística (INE), no último trimestre de 2014 a situação do mercado de
trabalho em Portugal piorou, também devido a uma significativa destruição de
postos de trabalho.
É
do conhecimento geral que pobreza e desemprego têm uma relação directa. O crescimento
do desemprego gera, naturalmente, aumento da pobreza. Por esse motivo, é
natural que o mesmo especialista (*) que ontem analisou no Público os dados
recentes publicados pelo INE relativos às condições de vida e rendimento dos
portugueses venha hoje apreciar também a situação do mercado de trabalho entre
nós.
Saíram esta quarta-feira os dados do INE, referentes
ao último trimestre de 2014. Estas estatísticas do emprego são a medida do
desemprego em Portugal. Os dados que vão saindo mensalmente, sejam também do
INE, ou de organizações internacionais, são previsões provisórias, até estes
dados conhecidos. Por sua vez, os dados do IEFP apenas nos dão o desemprego
registado, sendo assim administrativos, logo complementam, mas não medem o
desemprego.
Os números agora conhecidos dizem que o mercado de trabalho nacional piorou no último trimestre.
O desemprego, face ao trimestre anterior, aumentou 9,4
mil pessoas, contudo a nota mais negativa é dada pela destruição trimestral de
emprego, superior a 70 mil.
Este desfasamento assimétrico, entre o aumento do
desemprego e a diminuição de emprego, acima de 65 mil, demonstra duas coisas: a
emigração e o desencorajamento regressaram, depois duma Primavera-Verão ímpar,
em termos de turismo e da restauração.
Para sustentar esta última perspectiva realçam-se os
dados da redução de emprego nos grupos de jovens, seja entre os 15 e os 24 anos
ou entre os 25 e os 34 anos, no valor aproximado de 40 mil postos de trabalho,
a par da insignificante variação do desemprego. Acrescenta-se ainda o aumento
da população inactiva, acima das 60 mil pessoas.
Se o nível de análise, porém, forem os dados
anualizados, verifica-se que, embora o emprego se tenha acrescido, em 2014, de
22,7 mil casos, portanto um número não significativo, todavia, quando comparado
com os aumentos observados nas políticas públicas ocupacionais de
desempregados, vistos na comparação em termos dos valores médios anuais, os
desempregos envolvidos subiram cerca de 45 mil pessoas, ou seja, o dobro.
A actividade económica, portanto, ao longo de 2014, de
facto empregou menos gente, logo o mercado de trabalho piorou.
Apesar do excelente ano turístico, sobretudo nas
Cidades de Lisboa e do Porto, que levaram a que as regiões, onde se inserem,
tenham diminuído, respectivamente, a taxa de desemprego 3,2 e 2,2 pp, as ténues
melhorias estatísticas anuais do emprego estão, assim, longe de ser boas.
Em síntese, mais de um milhão e duzentas mil pessoas,
em Portugal, estão mal perante o trabalho, ou porque estritamente
desempregados, ou porque desencorajadas, ou porque ainda trabalham como subempregados
involuntariamente. Este é um número dramático, numa população activa que pouco
fica acima de 5 milhões.
A consequência desta situação do mercado de trabalho,
em primeira instância, reflecte-se nos dados negativos conhecidos recentemente
sobre a pobreza e, depois, na nuvem negra que paira sobe as expectativas dos
cidadãos nacionais.
(*) Francisco
Madelino, Professor do ISCTE e ex-presidente do IEFP
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