quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

DEGRADAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO, UMA REALIDADE QUE JÁ NÃO É POSSÍVEL ESCAMOTEAR


Apesar de todos os truques usados pelo Governo para mascarar o desemprego durante seis trimestres consecutivos, a verdade é que, conforme dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), no último trimestre de 2014 a situação do mercado de trabalho em Portugal piorou, também devido a uma significativa destruição de postos de trabalho.
É do conhecimento geral que pobreza e desemprego têm uma relação directa. O crescimento do desemprego gera, naturalmente, aumento da pobreza. Por esse motivo, é natural que o mesmo especialista (*) que ontem analisou no Público os dados recentes publicados pelo INE relativos às condições de vida e rendimento dos portugueses venha hoje apreciar também a situação do mercado de trabalho entre nós.
Saíram esta quarta-feira os dados do INE, referentes ao último trimestre de 2014. Estas estatísticas do emprego são a medida do desemprego em Portugal. Os dados que vão saindo mensalmente, sejam também do INE, ou de organizações internacionais, são previsões provisórias, até estes dados conhecidos. Por sua vez, os dados do IEFP apenas nos dão o desemprego registado, sendo assim administrativos, logo complementam, mas não medem o desemprego.
Os números agora conhecidos dizem que o mercado de trabalho nacional piorou no último trimestre.
O desemprego, face ao trimestre anterior, aumentou 9,4 mil pessoas, contudo a nota mais negativa é dada pela destruição trimestral de emprego, superior a 70 mil.
Este desfasamento assimétrico, entre o aumento do desemprego e a diminuição de emprego, acima de 65 mil, demonstra duas coisas: a emigração e o desencorajamento regressaram, depois duma Primavera-Verão ímpar, em termos de turismo e da restauração.
Para sustentar esta última perspectiva realçam-se os dados da redução de emprego nos grupos de jovens, seja entre os 15 e os 24 anos ou entre os 25 e os 34 anos, no valor aproximado de 40 mil postos de trabalho, a par da insignificante variação do desemprego. Acrescenta-se ainda o aumento da população inactiva, acima das 60 mil pessoas.
Se o nível de análise, porém, forem os dados anualizados, verifica-se que, embora o emprego se tenha acrescido, em 2014, de 22,7 mil casos, portanto um número não significativo, todavia, quando comparado com os aumentos observados nas políticas públicas ocupacionais de desempregados, vistos na comparação em termos dos valores médios anuais, os desempregos envolvidos subiram cerca de 45 mil pessoas, ou seja, o dobro.
A actividade económica, portanto, ao longo de 2014, de facto empregou menos gente, logo o mercado de trabalho piorou.
Apesar do excelente ano turístico, sobretudo nas Cidades de Lisboa e do Porto, que levaram a que as regiões, onde se inserem, tenham diminuído, respectivamente, a taxa de desemprego 3,2 e 2,2 pp, as ténues melhorias estatísticas anuais do emprego estão, assim, longe de ser boas.
Em síntese, mais de um milhão e duzentas mil pessoas, em Portugal, estão mal perante o trabalho, ou porque estritamente desempregados, ou porque desencorajadas, ou porque ainda trabalham como subempregados involuntariamente. Este é um número dramático, numa população activa que pouco fica acima de 5 milhões.
A consequência desta situação do mercado de trabalho, em primeira instância, reflecte-se nos dados negativos conhecidos recentemente sobre a pobreza e, depois, na nuvem negra que paira sobe as expectativas dos cidadãos nacionais.
(*) Francisco Madelino, Professor do ISCTE e ex-presidente do IEFP

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