domingo, 8 de fevereiro de 2015

ÓDIOS INEVITÁVEIS


Não podemos esperar outra coisa senão que “fundamentalismo doutrinário neo-liberal” tenha um ódio mortal aos novos líderes gregos e a todos os que lhes seguirem as pisadas, como poderá vir a acontecer com o Podemos em Espanha, para citarmos apenas a maior evidência do momento.
Talvez um dia venhamos a agradecer aos gregos por terem libertado os povos da Europa da ideia de que não há alternativa às políticas de austeridade radical e de empobrecimento forçado impostos por uma doutrina que não traz qualquer esperança ao futuro das populações senão mais e mais sacrifícios para a esmagadora maioria a par de um descomunal aumento da riqueza de um número muito reduzido de pessoas.
Os velhos partidos da rotatividade do poder – entre nós PS, PSD e CDS – não têm mais nada para oferecer ao povo para além de uma obediência cega aos ditames de Berlim, “custe o que custar” em termos de sacrifícios para os portugueses, sem que os objectivos desses sacrifícios tenham sido atingidos. Os novos ventos que sopram na Europa trazem ideias novas a todos os níveis e, por isso, são os alvos de todos os ódios dos estabelecidos e beneficiados com o sistema.
Este curto texto de Nicolau Santos, que transcrevemos do Expresso Economia de ontem, dá-nos uma imagem do ódio sobre a lufada das ideias emergentes na Europa, com o toque de humor bem característico daquele jornalista.
O fundamentalismo doutrinário neo-liberal odeia Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis. Odeia-os porque eles vieram estilhaçar o consenso instalado. Odeia-os porque eles lançaram a dúvida nos espíritos. Odeia-os porque mostraram que não exista só a TINA (There Is No Alternative). Odeia-os porque não usam gravata. Odeia-os porque não se submeteram ao “diktak” que esmaga a Europa. Odeia-os porque colocaram o Parlamento Europeu, a Comissão e os Estados membros em pé de igualdade como seus interlocutores. Odeia-os porque não foram a correr a Berlim prestar vassalagem a Angela Merkel. Odeia-os porque puseram a ridículo os que assim que ascenderam ao poder fizeram isso, como François Hollande ou Passos Coelho. Odeia-os porque disseram cara a cara a Wofgang Schauble que não concordam com ele. Odeia-os porque não estão a negociar de mão estendida. Odeia-os porque estão a honrar o essencial do programa com que venceram as eleições. Odeia-os porque já perceberam que a Europa vai ter de ceder. Odeia-os porque eles estão de bem com a vida e têm humor a lidar com coisas sérias. Odeia-os porque não os vão conseguir derrotar. 

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