sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

ESCOLHAS POLÍTICAS


Obviamente que não é correcto culpar agora a Alemanha como país pelo garrote que está a ser infligido aos países periféricos da Europa. O problema tem a ver com as escolhas políticas que têm vindo a ser feitas pela UE, cujos responsáveis não são apenas alemães. Por sinal, as referidas escolhas políticas têm beneficiado, sobretudo, o capital financeiro em detrimento dos povos e contra os interesses destes, incluindo o alemão.
Independentemente do que o futuro nos vier a reservar, a vitória do Syriza na Grécia teve o condão de colocar em questão o pensamento único e a ideia de que não há alternativas à actual política de austeridade que atinge, em especial, os países do sul da Europa, sem que nenhum dos problemas que supostamente levaram à sua implementação fosse resolvido.
É muito importante que se insista nesta ideia para que em futuras eleições os votantes não mais sejam enganados pela propaganda mentirosa dos arautos do neoliberalismo dominante.
O texto seguinte (*) que transcrevemos do Diário as beiras de ontem dá uma achega ao que acabámos de afirmar.  
Na Alemanha, tanto os Verdes como o Partido de Esquerda apoiam o essencial do programa do Syriza: reestruturação da dívida, acudir à crise social e humanitária e a rejeição da troika (comunicado dos Verdes, 17/02/15). Em Portugal, o nosso Governo e a direita comprometida com o capitalismo financeiro são mais radicais contra o Syriza do que o CDU de Merkel.
Durão Barroso foi o maior responsável pela política da UE nos últimos 10 anos e não é alemão. O problema da UE não é a Grécia ou a Alemanha, trata-se de um problema de escolha política. Gosto dos dois países e gosto em particular do nível de igualitarismo e de emancipação feminina da sociedade alemã. No entanto, tal como divulgado no “Spiegel” do passado dia 19, tem aumentado o fosso entre ricos e pobres desde 2006.
O crescimento da economia alemã tem sido fraco desde 2012, em parte pela diminuição do consumo de carros e eletrodomésticos alemães nos países em crise. Na Alemanha, constato a informalidade crescente no emprego e nos serviços – tornou-se mais frequente não receber faturas.
A Goldman Sachs camuflou a dívida grega e apostou na sua falência com a cumplicidade dos partidos da austeridade. Por cada euro de redução no orçamento, o programa de austeridade provocou uma baixa do PIB entre 1,30 e 1,50€. A escolha não é entre a Grécia e a Alemanha, a escolha é entre syrizar ou não syrizar.
(*) Rui Curado da Silva

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