Obviamente
que não é correcto culpar agora a Alemanha como país pelo garrote que está a
ser infligido aos países periféricos da Europa. O problema tem a ver com as
escolhas políticas que têm vindo a ser feitas pela UE, cujos responsáveis não
são apenas alemães. Por sinal, as referidas escolhas políticas têm beneficiado,
sobretudo, o capital financeiro em detrimento dos povos e contra os interesses
destes, incluindo o alemão.
Independentemente
do que o futuro nos vier a reservar, a vitória do Syriza na Grécia teve o
condão de colocar em questão o pensamento único e a ideia de que não há
alternativas à actual política de austeridade que atinge, em especial, os
países do sul da Europa, sem que nenhum dos problemas que supostamente levaram à
sua implementação fosse resolvido.
É
muito importante que se insista nesta ideia para que em futuras eleições os
votantes não mais sejam enganados pela propaganda mentirosa dos arautos do
neoliberalismo dominante.
O
texto seguinte (*) que transcrevemos do Diário as beiras de ontem dá uma achega
ao que acabámos de afirmar.
Na
Alemanha, tanto os Verdes como o Partido de Esquerda apoiam o essencial do
programa do Syriza: reestruturação da dívida, acudir à crise social e
humanitária e a rejeição da troika (comunicado dos Verdes, 17/02/15). Em
Portugal, o nosso Governo e a direita comprometida com o capitalismo financeiro
são mais radicais contra o Syriza do que o CDU de Merkel.
Durão
Barroso foi o maior responsável pela política da UE nos últimos 10 anos e não é
alemão. O problema da UE não é a Grécia ou a Alemanha, trata-se de um problema
de escolha política. Gosto dos dois países e gosto em particular do nível de
igualitarismo e de emancipação feminina da sociedade alemã. No entanto, tal
como divulgado no “Spiegel” do passado dia 19, tem aumentado o fosso entre
ricos e pobres desde 2006.
O
crescimento da economia alemã tem sido fraco desde 2012, em parte pela
diminuição do consumo de carros e eletrodomésticos alemães nos países em crise.
Na Alemanha, constato a informalidade crescente no emprego e nos serviços –
tornou-se mais frequente não receber faturas.
A
Goldman Sachs camuflou a dívida grega e apostou na sua falência com a
cumplicidade dos partidos da austeridade. Por cada euro de redução no
orçamento, o programa de austeridade provocou uma baixa do PIB entre 1,30 e
1,50€. A escolha não é entre a Grécia e a Alemanha, a escolha é entre syrizar
ou não syrizar.
(*) Rui
Curado da Silva
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