Os
brutais cortes efectuados em várias áreas de natureza social, muito para além
do que a própria troika tinha determinado, estão a revelar as suas nefastas
consequências. Por exemplo na saúde, nem por milagre, o desinvestimento poderá
ter como consequência uma melhoria dos resultados, como se pode constatar através
de conversas com trabalhadores desta área e pelas perdas de vidas em situações
mais agudas como sucedeu recentemente, fruto do surto de gripe sazonal, típico
em todos os invernos. Não é possível convencer o mais ingénuo dos portugueses
que o caso das pessoas que faleceram devido aos atrasos verificados nas
urgências de vários hospitais não tenha a ver com a falta de recursos da mais
diversa ordem, motivados pelos extensos desinvestimentos na área da saúde. É esta,
também, a opinião do Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos
(*) num artigo de opinião publicado recentemente no Diário de Coimbra, de onde
recolhemos o seguinte excerto.
Desde
o final do ano passado, assistimos à queda estrondosa de um castelo de cartas
construído sobre a mediatização de uma absoluta falsidade: conseguir melhorar
os padrões de cuidados de saúde diminuindo os recursos humanos, escasseando dispositivos
médicos, dificultando o acesso a medicação e exames complementares de
diagnóstico, ignorando os alertas dos profissionais de saúde e esquecendo a
angústia dos doentes. Uma espécie de novo milagre português arquitetado para
convencer o agnóstico mais renitente.
As
poupanças – necessárias mas não obstinadas e irrefletidas – são festejadas com
confettis de carnaval e nos holofotes da comunicação social. Mas nenhuma
decisão do Ministério da Saúde tem a preocupação de prever ou sequer perceber o
impacto sobre a saúde dos portugueses e sobre a capacidade do país poder
continuar a tratar dos seus doentes com a qualidade que a Constituição da
República Portuguesa e a moralidade política deveria obrigar.
O
Ministério da Saúde foi justificando as machadadas no Serviço Nacional de Saúde
(SNS) por um pretenso brilhantismo contabilístico e aritmético do corte
certeiro na despesa. E até foi além do preconizado pelos credores
internacionais com mais umas machadadas cirúrgicas no SNS. A Saúde passou a ser
etiquetada como herdeira do despesismo de 40 anos de Democracia que impunha
colocar no devido lugar. Os Doentes passaram a ser tratados pelas guidelines da
poupança cega e pela insensibilidade de quem só sabe ver a saúde pelo prisma
das calculadoras.
Os
resultados estão à vista. O sistema colapsa com o simples batimento de asas de
uma borboleta. Um pico de gripe, uma gelada ou qualquer outro acontecimento
trivial tem o efeito de um furacão destruidor.
Hoje,
o SNS perdeu muito da sua vitalidade e da sua capacidade de resistir a
adversidades.
Mas
o que é feito da responsabilização dos decisores políticos neste país de
impunidade?
(*) Carlos
Cortes
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