domingo, 22 de fevereiro de 2015

OS DESINVESTIMENTOS NA SAÚDE


Os brutais cortes efectuados em várias áreas de natureza social, muito para além do que a própria troika tinha determinado, estão a revelar as suas nefastas consequências. Por exemplo na saúde, nem por milagre, o desinvestimento poderá ter como consequência uma melhoria dos resultados, como se pode constatar através de conversas com trabalhadores desta área e pelas perdas de vidas em situações mais agudas como sucedeu recentemente, fruto do surto de gripe sazonal, típico em todos os invernos. Não é possível convencer o mais ingénuo dos portugueses que o caso das pessoas que faleceram devido aos atrasos verificados nas urgências de vários hospitais não tenha a ver com a falta de recursos da mais diversa ordem, motivados pelos extensos desinvestimentos na área da saúde. É esta, também, a opinião do Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (*) num artigo de opinião publicado recentemente no Diário de Coimbra, de onde recolhemos o seguinte excerto.
Desde o final do ano passado, assistimos à queda estrondosa de um castelo de cartas construído sobre a mediatização de uma absoluta falsidade: conseguir melhorar os padrões de cuidados de saúde diminuindo os recursos humanos, escasseando dispositivos médicos, dificultando o acesso a medicação e exames complementares de diagnóstico, ignorando os alertas dos profissionais de saúde e esquecendo a angústia dos doentes. Uma espécie de novo milagre português arquitetado para convencer o agnóstico mais renitente.
As poupanças – necessárias mas não obstinadas e irrefletidas – são festejadas com confettis de carnaval e nos holofotes da comunicação social. Mas nenhuma decisão do Ministério da Saúde tem a preocupação de prever ou sequer perceber o impacto sobre a saúde dos portugueses e sobre a capacidade do país poder continuar a tratar dos seus doentes com a qualidade que a Constituição da República Portuguesa e a moralidade política deveria obrigar.
O Ministério da Saúde foi justificando as machadadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) por um pretenso brilhantismo contabilístico e aritmético do corte certeiro na despesa. E até foi além do preconizado pelos credores internacionais com mais umas machadadas cirúrgicas no SNS. A Saúde passou a ser etiquetada como herdeira do despesismo de 40 anos de Democracia que impunha colocar no devido lugar. Os Doentes passaram a ser tratados pelas guidelines da poupança cega e pela insensibilidade de quem só sabe ver a saúde pelo prisma das calculadoras.
Os resultados estão à vista. O sistema colapsa com o simples batimento de asas de uma borboleta. Um pico de gripe, uma gelada ou qualquer outro acontecimento trivial tem o efeito de um furacão destruidor.
Hoje, o SNS perdeu muito da sua vitalidade e da sua capacidade de resistir a adversidades.
Mas o que é feito da responsabilização dos decisores políticos neste país de impunidade?
(*) Carlos Cortes

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