“Quem
controla a informação controla o poder” é uma expressão cada vez mais
consentânea com a realidade. Por isso, não causa qualquer admiração que o poder
tente filtrar a informação que chega aos cidadãos colocando gente da sua
confiança em postos chave da comunicação social. Se os pivots e os comentadores
dos telejornais são os que são e não outros, não é por acaso. A verdade oficial
deve ser inculcada na população, custe o que custar. Sendo assim, o cidadão comum
que é “obrigado” a consumir a informação que lhe entra casa adentro deve ter o
cuidado de a confirmar em várias fontes para não ser enganado. No que diz respeito
à imprensa escrita a situação é idêntica.
Um
dos sectores mais importantes da imprensa escrita é o que diz respeito à área económica.
Ainda há pouco tempo um profissional da comunicação social escrevia que 90% dos
jornalistas da área económica são ideologicamente próximos do Governo. Se esta afirmação
for totalmente verdadeira, podemos imaginar que tipo de informação nos chega,
ainda que tenha origem no mais honesto dos profissionais…
Para
quem puder andar distraído, o seguinte texto de Pacheco Pereira que
transcrevemos da última edição da revista Sábado é extremamente revelador… Uma
leitura que se recomenda.
O
“jornalismo” económico em Portugal caracteriza-se por não ser jornalismo. Há
alguns jornalistas económicos que não merecem aspas? Há sem dúvida, mas são a
excepção da excepção. E eles são os primeiros a saber que o são e como são
verdadeiras as afirmações que aqui faço. Até porque fazer jornalismo na
imprensa económica é das coisas mais difíceis nos dias de hoje. Fica-se sem
“fontes” sem a simpatia dos donos e dos anunciantes e pode-se ficar sem
emprego.
A
maioria da imprensa “económica” fá-lo entre páginas e páginas feitas por
agências de comunicação, artigos enviados por auditoras e escritórios de
advogados, fugas “positivas” de membros do Governo. Quase tudo é pago nessa
imprensa, mas esse pagamento não é o salário normal do jornalismo, mas o seu
“modelo de negócio”, “vender comunicação” como se fosse jornalismo. É pago por
empresas, associações de interesses, agências de comunicação e marketing, por
sua vez empregues por quem tem muito dinheiro para as pagar.
O
público é servido por “informação” que não é informação, mas publicidade e
comunicação profissionalizada de agências, dos prémios de “excelência” disto e
daquilo, destinados a adornar a publicidade empresarial, páginas encomendadas
por diferentes associações, grupos de interesses e lóbis, nem sempre claramente
identificados, anuários em que só se pode estar se se pagar, organização de
eventos que parecem colóquios ou debates mas não são.
Um cidadão que não conheça
estes meandros pensa que o prémio é competitivo e dado por um júri isento, que
as páginas especializadas são feitas por jornalistas e que quem é objecto de notícia
é-o pelo seu mérito e não porque uma agência de comunicação “colocou” lá a
notícia, que um anuário é suposto ter todos os profissionais ou as empresas de
um sector e não apenas as que pagam para lá estar, e que um debate é para ser a
sério, ter contraditório e exprimir opiniões não para a propaganda
governamental ou empresarial. O acesso ao pódio nesses debates é cuidadosamente
escolhido para não haver surpresas, e os participantes pagam caro para serem
vistos onde se tem de ser visto, num exercício de frotteurisme da família das filias.
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