segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

STIGLITZ SOBRE A GRÉCIA


Como devemos continuar a salientar, Joseph Stiglitz, o Prémio Nobel de Economia 2001, não é propriamente um esquerdista radical e, como tal, as suas opiniões, fortemente críticas sobre o sistema neoliberal que ora governa o mundo, são muito importantes para contestarmos o caminho que está a ser seguido e que apenas tem servido para aprofundar as desigualdades a nível planetário com as consequências sociais que daí advêm a todos os níveis.
No artigo de opinião que assina no Expresso Economia do passado sábado, Stiglitz aborda a situação grega, aproveitando para salientar o erro que contêm as políticas de austeridade já aplicadas em várias partes do mundo, sempre com resultados negativos. Do referido artigo evidenciamos os seguintes pontos:
- Quando a crise do euro começou, há meia década, economistas keynesianos previram que a austeridade que estava a ser imposta à Grécia e aos outros países em crise iria falhar.
- Não precisávamos de mais um teste. A austeridade já tinha falhado várias vezes, desde o seu precoce pelo Presidente dos EUA, Herbert Hoover, que transformou o crash do mercado bolsista na Grande Depressão, até aos “programas” impostos em décadas recentes pelo FMI na Ásia Oriental e na América Latina.
- [Na Grécia] a contração da dívida pública foi previsivelmente devastadora: 25% de desemprego, uma queda de 22% no PIB desde 2009 e um aumento de 35% no rácio da dívida relativamente ao PIB. E agora, com a esmagadora vitória eleitoral do partido antiausteridade Syriza, os eleitores gregos declararam que estavam fartos.
- A Grécia também nos lembrou, mais uma vez, como o mundo necessita urgentemente de um enquadramento para reestruturação da dívida. A dívida excessiva provocou não só a crise de 2008, mas também a crise da Ásia Oriental na década de 90 e a crise da América Latina na década de 80. Continua a causar sofrimento incalculável nos EUA, onde milhões de proprietários perderam as suas casas, e ameaça agora mais milhões na Polónia e em outros locais.
- A nível internacional ainda não criámos um processo organizado para proporcionar um novo começo a países.
- Alguém no seu perfeito juízo, pensa que qualquer país passaria intencionalmente por aquilo que a Grécia passou, apenas para se aproveitar dos seus credores?
- A situação atual na Grécia, incluindo a enorme subida do rácio da dívida, é principalmente devida, aos equivocados programas da troika que lhe foram impingidos.
- Portanto, não é a reestruturação da dívida, mas a sua ausência, que é imoral.
- O que torna os problemas da Grécia mais difíceis de enfrentar é a estrutura da zona euro: a união monetária implica que os Estados-membros não podem usar a desvalorização para sair de apuros.
- A abordagem para a Grécia consiste em converter as suas atuiais obrigações em obrigações indexadas ao PIB.
- Eleições democráticas raramente dão uma mensagem tão clara como a que a Grécia deu.
- Se a Europa disser não à exigência dos eleitores gregos relativamente a uma mudança de rumo, estará a dizer que a democracia não tem importância, pelo menos no que diz respeito à economia.

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