Como
infelizmente sabemos muito bem, nem do serviço público de comunicação social
poderemos, na medida em que o mesmo é controlado por comissários políticos
completamente ligados ao poder dominante. No que diz respeito aos canais
privados, nem sequer podemos sonhar que cumpram as regras básicas do pluralismo
e, se algum “colaborador” o tentar, colocará o seu posto de trabalho em risco.
Neste
quadro não é difícil criar estereótipos, a partir dos quais, com facilidade se
manipula a opinião pública em favor dos interesses instalados.
Para
o radicalismo neoliberal actualmente dominante a eleição de um governo de
esquerda na Grécia torna este país alvo de uma intensa campanha difamatória,
notória na postura de grande parte dos analistas políticos que tecem os seus
comentários nos diversos canais televisivos. Fica assim criado o caldo para a manipulação
da informação, imputando-se sempre, com a maior das facilidades a culpa ao país
maldito.
Sobre
esta matéria, uma tomada de posição de um consultor de comunicação tem muito
interesse porque ele sabe do que fala. O texto seguinte (*) refere uma situação
supostamente facilitista que poderia ser imputada aos maus da fita entretanto
criados mas que não corresponde à realidade.
Há
uma pequena aldeia que eu conheço em que se rebocam os carros mal estacionados
apenas por necessidade, sem os multar, e onde as autoridades ainda pedem
desculpa. Onde fica? Já lá vamos. O serviço, prestado pela polícia local,
deve-se ao facto de haver poucos lugares de estacionamento e muita vontade de
receber visitantes. Assim , todos os carros que estejam a atrapalhar são enviados
com muito cuidado para um lugar coberto onde não apanham nem frio nem chuva, ao
mesmo tempo que todos os que cheguem de novo ao destino encontrem as ruas
livres e um ambiente urbano suave equilibrado.
Uma
coisa é certa, os visitantes ficam muito sensibilizados com esta prática e,
automaticamente, passam a ter o nome da terra como sinónimo de civilização. E vontade
de voltar.
Numa
época onde, por toda a Europa, se discutem quais os serviços que o Estado deve
prestar aos cidadãos – que saúde, que educação, que justiça, que desporto –
vamos passar a ter que encontrar outro, também essencial: que estacionamento.
Nos
tempos que agora vivemos, todos em uníssono poderíamos acusar: é a Grécia, é na
Grécia. Esses gregos! E já imaginamos ilhas inteiras com médicos corruptos e
cegos taxistas. Mas não: é em França.
Nem
sempre os ventos dominantes na opinião pública são o melhor caminho para compreender
o que acontece. São as boas ideias que interessam e temos de estar sempre
dispostos a encontrá-las.
(*) José
Manuel Diogo, Diário de Coimbra
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