A
vida foi tremendamente injusta para Miguel Portas ao não ter permitido que
tivesse assistido à vitória do Syriza na Grécia. Quando ele faleceu essa
possibilidade era ainda muito remota mas a verdade é que as políticas levadas a
cabo pelo radicalismo neoliberal que está no poder na Europa têm vindo a
provocar uma séria destruição do tecido social com uma distribuição cada vez
mais desigualitária da riqueza por via de uma criminosa austeridade que atinge,
particularmente os que se encontram no patamar inferior da sociedade. Para além
da Grécia, também em Espanha, e Irlanda se começa a notar uma reacção popular
relativamente ao deixa andar dos partidos da rotatividade do poder, como nota o
autor (*) do pequeno texto seguinte que transcrevemos do Diário as beiras de
hoje.
É
obvio que para qualquer partido político a finalidade última é governar e
colocar em prática o que entende serem as melhores opções para conduzirem os
destinos de um povo. Agora que o Syriza, do qual o Bloco de Esquerda é o único verdadeiro
partido irmão em Portugal, venceu as eleições na Grécia, quase toda a esquerda
lhe tece loas porque convém em tempo de vitória, olvidando as derrotas das
formações partidárias que lhe são mais próximas. Sem esquecermos esta
realidade, é muito importante termos em atenção ao que se irá passar nos tempos
mais próximos em que há um partido político que não pretende fazer tábua rasa
das promessas eleitorais e, antes pelo contrário, não quer deixar de cumprir as
promessas feitas em campanha eleitoral. Ao que nós chegámos – parece uma
atitude revolucionária – um partido político, neste caso o Syriza, querer
cumprir o contrato que fez com o seu povo.
“Nós
queremos governar”, foi assim que Miguel Portas encerrou diversas jornadas
políticas que reuniram mulheres e homens de vários quadrantes da esquerda. Estávamos
nos primeiros anos da crise e aquelas palavras do Miguel tinham a ressonância certa.
À crise financeira, seguia-se a crise social sob o pano de fundo de uma crise
ambiental. Era preciso responder com um programa de governação de esquerda
contra o controlo da política e dos povos pelos mercados financeiros (agências
de notação, bancos, praças financeiras, etc.).
Hoje,
a vitória do Syriza, a ascensão do Podemos em Espanha e do Sinn Féin na Irlanda
estão a abrir novas perspectivas de governação que liberte a Europa do
espartilho da austeridade. Mais do que a pertença à mesma família política
europeia, o que liga estes partidos ao Bloco são as linhas principais do
programa político: contra a austeridade, pela reestruturação da dívida, acudir
à urgência social, combater a crise ambiental e transformar o euro numa moeda
solitária.
O
compromisso, outro elemento essencial de governação, tem estado presente em
experiencias recentes em que o Bloco abdicou de candidaturas próprias para apoiar
amplos movimentos de cidadãos em Coimbra, Soure e Braga, bem como na participação
na coligação do Funchal, onde se obteve uma vitória histórica contra o
caciquismo e a corrupção. Nunca as palavras de Miguel fizeram tento sentido.
(*) Rui
Curado da Silva
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