quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

CUMPRIR O CONTRATO COM O POVO


A vida foi tremendamente injusta para Miguel Portas ao não ter permitido que tivesse assistido à vitória do Syriza na Grécia. Quando ele faleceu essa possibilidade era ainda muito remota mas a verdade é que as políticas levadas a cabo pelo radicalismo neoliberal que está no poder na Europa têm vindo a provocar uma séria destruição do tecido social com uma distribuição cada vez mais desigualitária da riqueza por via de uma criminosa austeridade que atinge, particularmente os que se encontram no patamar inferior da sociedade. Para além da Grécia, também em Espanha, e Irlanda se começa a notar uma reacção popular relativamente ao deixa andar dos partidos da rotatividade do poder, como nota o autor (*) do pequeno texto seguinte que transcrevemos do Diário as beiras de hoje.  
É obvio que para qualquer partido político a finalidade última é governar e colocar em prática o que entende serem as melhores opções para conduzirem os destinos de um povo. Agora que o Syriza, do qual o Bloco de Esquerda é o único verdadeiro partido irmão em Portugal, venceu as eleições na Grécia, quase toda a esquerda lhe tece loas porque convém em tempo de vitória, olvidando as derrotas das formações partidárias que lhe são mais próximas. Sem esquecermos esta realidade, é muito importante termos em atenção ao que se irá passar nos tempos mais próximos em que há um partido político que não pretende fazer tábua rasa das promessas eleitorais e, antes pelo contrário, não quer deixar de cumprir as promessas feitas em campanha eleitoral. Ao que nós chegámos – parece uma atitude revolucionária – um partido político, neste caso o Syriza, querer cumprir o contrato que fez com o seu povo.
“Nós queremos governar”, foi assim que Miguel Portas encerrou diversas jornadas políticas que reuniram mulheres e homens de vários quadrantes da esquerda. Estávamos nos primeiros anos da crise e aquelas palavras do Miguel tinham a ressonância certa. À crise financeira, seguia-se a crise social sob o pano de fundo de uma crise ambiental. Era preciso responder com um programa de governação de esquerda contra o controlo da política e dos povos pelos mercados financeiros (agências de notação, bancos, praças financeiras, etc.).
Hoje, a vitória do Syriza, a ascensão do Podemos em Espanha e do Sinn Féin na Irlanda estão a abrir novas perspectivas de governação que liberte a Europa do espartilho da austeridade. Mais do que a pertença à mesma família política europeia, o que liga estes partidos ao Bloco são as linhas principais do programa político: contra a austeridade, pela reestruturação da dívida, acudir à urgência social, combater a crise ambiental e transformar o euro numa moeda solitária.
O compromisso, outro elemento essencial de governação, tem estado presente em experiencias recentes em que o Bloco abdicou de candidaturas próprias para apoiar amplos movimentos de cidadãos em Coimbra, Soure e Braga, bem como na participação na coligação do Funchal, onde se obteve uma vitória histórica contra o caciquismo e a corrupção. Nunca as palavras de Miguel fizeram tento sentido.
(*) Rui Curado da Silva

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