O
texto seguinte (*) que transcrevemos do Diário de Coimbra de hoje contém dados
pouco divulgados na nossa comunicação social (sabe-se lá porquê…) relativamente
à dívida, à corrupção e à fuga aos impostos na Grécia assim como nas somas colossais
pagas por essa Europa fora a determinados cargos, uma verdadeira afronta aos
muitos milhões que vivem à beira da miséria.
Vale
a pena ler este texto que é suporte de alguma informação menos conhecida e que
é importante divulgar.
Manter
o essencial herdado dos anteriores acordos com a troica, nomeadamente a prossecução
do programa de privatizações já lançado e que inclui o porto de Pireu, combate
à corrupção e à evasão fiscal, acrescido do fornecimento gratuito de
electricidade a dezenas de milhares de famílias, acesso gratuito aos cuidados
de saúde e distribuição de fichas alimentares e de transporte para os mais
carenciados.
Eis,
no essencial, o resultado das negociações entre gregos, europeus e o soturno
FMI, que abalaram o continente, já a braços com um problema que deixou criar
(Ucrânia) e, outro, permitindo que o Estado Islâmico (Daesh) esteja já perto
das nossas fronteiras ao assumir uma posição estratégica na Líbia – se o
Kadhafi soubesse – para não abordar a já insustentável questão económica e
social, que atinge a maioria das nações europeias.
Resta
esperar que amanhã, o Bundestag confirme o acordo com o Eurogrupo e que o
partido Syriza consiga manter uma certa coesão política.
Queria
aqui deixar aos leitores, já que os media que tinham obrigação de o fazer, escondem
ou manipulam a informação, que 81% da dívida grega se distribui pelas amortizações
(32%), recapitalização dos bancos (19%), juros (16%) e pagamentos ao sector
privado (PSI, 14%), totalizando cerca de €205 mil milhões, pelo que é
facilmente compreensível o buraco onde se encontram os cidadãos desse magnífico
e histórico país.
Quando,
entre nós, ouço falar em combate à corrupção, tenho de sair especialmente do
sítio onde me encontro ou mudar de canal. Na pátria de Platão, a fuga ao fisco
ainda consegue ser mais elaborada. Recordo uma entrevista feita pelo canal
franco-alemão ARTE, no início da crise, ao presidente dos armadores gregos,
representando, então 12% do PIB, quando a jornalista o questiona pela isenção de
impostos de que goza tão importante actividade económica. Visivelmente incomodado
pela questão e com o indicador em riste, respondeu: “mas criámos uma fundação para
ajudar os pobres”.
E
que dizer da própria igreja ortodoxa, instituição que dispõe do maior conjunto
patrimonial do país e para quem ao impostos não têm qualquer relevância.
Contudo
por essa Europa fora, há quem viva mesmo muito bem e completamente a leste de
tudo isto. Ainda esta semana, foi anunciado que o novo presidente de uma
empresa farmacêutica (Sanifi) vai receber €4 milhões, simplesmente ao sentar-se
na cadeira que lhe está reservada, mais €1,2 milhões de salário fixo e uma remuneração
variável, representando até 200% da fixa, mais um número indeterminado de
acções da empresa (La Tribune).
Aqui
ao lado, o salário do presidente da “Iberdrola” ultrapassa os €9 milhões,
enquanto os 16 membros da diração repartiram um bolo de €15 milhões, enquanto
um ex-ministro do partido popular, como simples conselheiro, levou €299 mil
para casa (El País).
Entre
nós, tudo ou quase tudo continua a ser possível. Desta vez, é o próprio
Tribunal de Contas a acusar a entidade reguladora do setor das águas e resíduos
(ERSAR) de “negligenciar a defesa do interesse público”, ao não promover, junto
dos municípios, a renegociação dos contratos de concessão de água, no âmbito
das parcerias público-privadas, envolvendo 19 dos 27 contratos de distribuição às
populações.
“Prefiro
mil vezes um pecador a um corrupto” disse o Papa Francisco, na sua homilia matinal,
na residência Santa Marta. A diferença é que quem peca, pede perdão, sente-se
débil, humilha-se e procura esse perdão. Pelo contrário – acrescentou – o corrupto
leva uma vida dupla, com uma mão vai ao bolso para dar à igreja, enquanto com a
outra, rouba o Estado e os pobres. Como tal, não merece perdão – conclui o
Papa.
(*)
João Marques, Licenciado em Ciências da Comunicação
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