As
Eleições Legislativas deste ano terão lugar daqui a menos de oito meses e, há
muito que se percebeu que a máquina de propaganda do Governo está em velocidade
de cruzeiro. O primeiro passo da campanha governamental foi meter na cabeça dos
portugueses que está tudo a correr pelo melhor e que o paraíso nos espera ao
virar da esquina se os eleitores continuarem a dar o seu aval às políticas
criminosas de Passos e Portas. Todas as artimanhas serão usadas para nos fazerem
esquecer as mentiras e promessas não cumpridas que levaram aqueles senhores ao
poder em 2011. Verdadeiramente o que eles nos podem agora prometer é mais
austeridade porque é aquilo que nos espera, mal estejam contados os votos e não
seja posto cobro às políticas em vigor. Não é novidade para ninguém que a
Europa alemã irá forçar o aprofundamento das “reformas”, leia-se mais cortes em
sectores como a saúde, educação, segurança social e pensões, e continuação da
entrega da sua parte lucrativa para a criação de chorudos negócios privados.
Todos
estes perigos que se avizinham devem ser denunciados afincadamente pela oposição
de esquerda que não se deixa submeter aos desígnios troikanos, para que a
mentira não venha, mais uma vez, a sair vencedora e os culpados recebam o
devido correctivo. Este excelente artigo de opinião do advogado Domingos Lopes,
que transcrevemos do Público de hoje, com uma linguagem simples, insere-se
perfeitamente nessa perspectiva.
O
Governo deu sempre ares de grande determinação em ter de corrigir os excessos
dos portugueses e fazê-los empobrecer, tal como um bom pai zelador do interesse
supremo da família.
O
país esbanjador, com cidadãos piegas, habituados às facilidades do Estado
social, tinha de mudar, dizia.
E
zumba: professores, médicos, enfermeiros, bolseiros, funcionários públicos,
magistrados judiciais, empresários, agricultores, pescadores, comerciantes,
todos apertados no torniquete da austeridade.
Na
cruzada contra os excessos de vida acima das possibilidades é curioso observar
que o modo como foi apresentada ficou de imediato claro que os responsáveis
pelo sistema financeiro ficavam de fora, apontando como alvo a esmagadora
maioria da população.
A
derrocada dos bancos não foi obra dos Jardins, Oliveiras e Costa, Salgados,
Dias Loureiros e companhia, que viviam como verdadeiros pachás e gastando o que
não era deles, mas sim dos que recebiam os seus vencimentos e rendimentos e
aplicavam-no como entendiam, muitas vezes seguindo os insistentes conselhos dos
gestores bancários.
Estes
governantes, talvez para esconder o centro da crise, atiraram-se aos
portugueses punindo-os, confiscando-lhe parte dos vencimentos.
Fizeram-no
na melhor tradição inquisitorial, alegando que o faziam para assegurar o bem
das vítimas, daí a satisfação com que se atiraram à obra e o desvelo
encantatório com que contemplam o resultado.
Todos
à uma, mais o íncola de Belém, apregoam que o país está bem, mas a gripe
sazonal de inverno, mais que esperada, fez parar as urgências dos hospitais e
alguns portugueses morreram ao fim de horas sem serem atendidos, e os
responsáveis hospitalares confiscam as macas aos pobres dos bombeiros para os
doentes não se espalharem no chão daqueles estabelecimentos.
Todos
à uma, trombeteiam o seu contentamento pelo novo estado do país, mas uma em
cada três crianças está no limiar da pobreza…
Todos
à uma, arreganham a tacha de satisfação pelo país que merece o crédito dos
credores, mas não há vacinas para a tuberculose… e a dívida passou de 97% para
135% do PIB.
Todos
à uma, dão ares de muito sérios, pois que não querem que os portugueses paguem
os prejuízos da TAP e querem vendê-la aos privados que sabem gerir, como se viu
nos bancos nacionais e internacionais. Estes privados não são como meros
bufarinheiros que todos os dias são confrontados com os compradores do seu
produto; não se sabe quem são, sem rosto, mas podres de ricos…
Todos
à uma, a caminho de Pequim, Bruxelas, Berlim, Washington, Luanda, Dubai, Riad,
oferecendo o país aos mandarins do mundo.
Todos
à uma, enfarpelados nos seus fatos escuros ou negros, com um minúsculo emblema
de um país que chora a sua tristeza, zurzem o chicote da austeridade,
pois o tempo, segundo o sacerdote máximo de Belém, não está para facilidades… e
convém lembrar aos mais distraídos e fazer notar aos credores com quem podem contar.
Todos
à uma, anunciam reformas laborais que nunca mais acabam e que significam sempre
mais sacrifícios para os que trabalham, a tal ponto que parece existir o
objetivo de acabar com o Código de Trabalho e deixar o mercado regular as
relações entre o empregador e o empregado… a bem da concorrência.
Todos
à uma, como gato a bofe, ao serviço de uma política neoliberal devastando o
tecido produtivo português e as condições de vida dos portugueses.
Todos
à uma, sem desfalecimento, dando golpes profundos no Estado social e no Estado
de Direito democrático, para erguer o Estado mínimo sem gorduras, que deixe à
larga e sem leis os donos do dinheiro.
São
estes os novos cruzados: gente que não gosta dos portugueses e que vive a
pensar em como pode engrandecer os donos do dinheiro para os fazer enriquecer e
simultaneamente empobrecer o país.
Há quem diga que tudo isto
tem a ver com o futuro e com o ajeitar a vidinha. É o que dizem…
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