Torna-se
cada vez mais evidente que estamos a assistir a uma acelerada desumanização do
serviço público de saúde e a uma igualmente notória degradação do Serviço
Nacional de Saúde (SNS). Durante algum tempo foi possível esconder-se estes
factos mas os sucessivos cortes nesta área, estão a reflectir-se em inúmeras
ocorrências que, dia a dia, chegam ao conhecimento dos cidadãos. Menos camas
nos hospitais públicos, caos nas urgências, atrasos nas cirurgias, redução dos
atendimentos nas urgências, agressões dos utentes aos profissionais da saúde
são apenas alguns exemplos rotineiros do que está a acontecer.
Em
abono da verdade diga-se que a actual direcção da Ordem dos Médicos tem vindo a
denunciar publicamente as malfeitorias que o Governo tem levado a cabo na área
da saúde e que tanto têm atingido profissionais e doentes. O texto seguinte, da
autoria do Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (*), é
um exemplo do que acabámos de afirmar.
“Senhor
Ministro, não me deixe morrer”. Há quem o diga em voz alta – como o fez um
desesperado da sua vida, José Carlos Saldanha, doente portador de Hepatite C em
fase avançada, que protestou com um dedo acusador dirigido ao Dr. Paulo Macedo,
numa comissão parlamentar da Assembleia da República. O desfecho deste apelo é
conhecido. Mas a esmagadora maioria dos doentes que necessitam de cuidados de
saúde condignos continuam a sofrer no silêncio da insensibilidade do Ministério
da Saúde. Um silêncio que dói e que nos responsabiliza a todos.
Neste
caso mediático, amplamente denunciado na comunicação social, as objetivas das
câmaras de televisão, os microfones e os blocos de notas dos jornalistas
fizeram mais do que meses de pressão exercida por doentes e por profissionais
de saúde. A razão imperou pela força da comunicação social. Os argumentos
técnicos dos Médicos e os pedidos de ajuda dos Doentes, entretanto, voltaram ao
esquecimento onde os coloca o Ministério da saúde.
O
que está a acontecer na área da Saúde em Portugal ultrapassa todos os limites
do admissível e os indicadores divulgados no âmbito do Dia Mundial da Saúde são
reveladores: menos camas nos hospitais públicos causando o caos nas urgências e
atrasando cirurgias, menos atendimentos nas urgências por dificuldades no
acesso aos hospitais e centros de saúde, desinvestimento nos Cuidados de Saúde
Primários, entre muitos outros. Os valores fundamentais do Serviço Nacional de
Saúde (SNS) estão a ser esquecidos e ocultos, os profissionais não são
valorizados e os doentes são desprezados.
Não
é essa a Medicina em que todos acreditamos e merecemos!
Os
médicos abandonam o SMS, alguns para o setor privado outros para a emigração. A
formação médica é dificultada por um Ministério da Saúde que só quer saber de
especialistas produzidos à pressão, esquecendo a qualidade, como se de uma
fábrica terceiro-mundista se tratasse.
Os
doentes estão revoltados, inconformados e sobretudo descrentes.
Há
um momento decisivo em que devemos dizer não!
E
esta é a altura de o fazer! Os profissionais da saúde não podem ser os bodes
expiatórios das decisões erradas tomadas nos gabinetes desumanizados do
ministério, não podem consentir uma saúde sem qualidade, não podem admitir a
destruição da relação entre o Médico e o seu Doente! Ninguém quer uma formação
médica de segunda com produção indiscriminada de especialistas, sem critérios
técnicos como parece ser a vontade do Ministério!
É,
pois, nosso dever exigir um Ministério da Saúde atento aos profissionais de
saúde e aos doentes! Precisamos de ética, moral, sensibilidade e sentido de
responsabilidade. Nem os doentes nem os profissionais merecem ser tratados como
o foram nestes últimos anos. A verdadeira sustentabilidade do SNS é conseguida
à custa dos profissionais e não nos malabarismos estatísticos para “Troikas”
verem!
Há
dias, alguém declarou que “um SNS de qualidade não é compatível com o atual
ministro da Saúde”.
É
o atual paradoxo do Dr. Paulo Macedo.
Eu
escolho um SNS de qualidade.
(*) Carlos
Cortes, Diário de Coimbra
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