O
PS está amarrado como boi a uma estaca no que diz respeito às políticas de
austeridade levadas a cabo por este Governo e, se ganhar as eleições não
alterará no essencial o que agora está a ser feito e programado para o futuro. Que
os portugueses não cultivem quaisquer ilusões a este respeito.
Um
exemplo significativo tem a ver com o salário mínimo. Sobre este tema que
atinge um elevado número de trabalhadores portugueses, são muito elucidativas
as opiniões de Mário Caetano, o economista que António Costa escolheu para
dirigir “o grupo para o “cenário macroeconómico” do PS, que será amanhã
apresentado”. Quem chama a atenção para este facto é Francisco Louçã no blog “Tudo menos economia” em que participa
diariamente no Público.
Aqui
fica um excerto do artigo de Louçã de onde retirámos várias hiperligações que
servem como prova das suas afirmações mas que tornam mais pesada a leitura do
texto. Quem quiser perceber o que o PS nos prepara, encontra aqui um magnífico
esclarecimento.
César
das Neves, um católico muito católico e agora muito antipapista, entendeu que
era uma questão de beneficência e de caridade: se os pobres trabalhadores
receberem mais, isso vai estragar-lhes a vida. É melhor salvá-los desse risco
de receberem mais vinte euros. Porque isso terá “consequências dramáticas sobre
os pobres” e vai aumentar o seu desemprego.
André
Azevedo Alves, professor da Universidade Católica e acólito da mesma ideia,
veio acrescentar o argumento definitivo: vinte euros pode parecer pouco, mas é
muito pelo padrão da Europa de Leste. E muito é demais.
Tudo
previsível, não fora aparecer uma outra justificação deste ataque ao salário
mínimo, desta vez das bandas do Partido Socialista. Martim Avillez, um cronista
de direita no Expresso, descobriu essa cumplicidade e engalanou o seu artigo
com elogios a Mário Centeno, um “economista arejado” do Banco de Portugal:
“Bruxelas veio esta semana dar um valente puxão de orelhas ao Governo por
avançar com o aumento do salário mínimo. Curiosamente, os argumentos que
invocaram são os mesmos que Mário Centeno (sim, eis de novo o economista
escolhido por António Costa para desenhar a sua estratégia eleitoral) também
esgrime desde 2011: os riscos desse aumento parecem ser bem maiores do que os
seus benefícios.”
Continua
noutro artigo Martim Avillez: “Centeno foi um dos autores de um estudo
sobre o salário mínimo muito usado por quem é contra os aumentos do SMN, porque
conclui que pode haver efeitos negativos no emprego de trabalhadores pouco
qualificados. Conclusão desse estudo: ‘Os aumentos do salário mínimo deverão
sempre ter em conta a evolução dos ganhos de produtividade e serem definidos no
conjunto de políticas que interferem com o custo do trabalho’.” Segundo o cronista,
a citação diz tudo. Não deve haver aumento do salário mínimo.
Centeno,
uma notável economista e professor, é de facto o mesmo que dirige o grupo para
o “cenário macroeconómico” do PS, que será amanhã apresentado, e logo se verá o
que nos diz tal cenário. Mas a sua posição é conhecida e merece consulta, não
só sobre o salário mínimo mas sobre a legislação do trabalho no seu todo: em
2013, publicou um livro, “O Trabalho — Uma Visão de Mercado”, que apresenta o
seu programa para a modificação das leis laborais.
Nesse
livro critica “a legislação do mercado de trabalho português (que) promoveu a
sua segmentação” (p.15) e “contribuiu para que se formasse em Portugal o mais
desigual e menos eficiente mercado de trabalho do continente” (p.18).
Acrescenta que a segmentação “introduz restrições na eficiente afetação dos
trabalhadores aos postos de trabalho” (p.24), o que resulta de “barreiras que a
regulamentação existente levanta à progressão laboral de alguns grupos de
trabalhadores” (p. 38).
Continua
Mário Centeno: “as dificuldades dos jovens no mercado decorrem da legislação de
proteção ao emprego” (p.69), pelo que, contrariando a “ilusão protecionista”,
será necessária uma reforma que “reduza os custos do despedimento (monetários e
processuais), avance no sentido de uniformizar as diferentes formas contratuais
e universalize o seguro de desemprego” (p.89). Em consequência, propõe um
“contrato único” com “períodos experimentais longos” e “mecanismos de pré-aviso
de despedimento que facilitem a procura de um novo emprego” (p.18).
Será isto que o PS nos vai
propor? Acabar com a “ilusão protecionista” e “reduzir os custos do
despedimento”? Passos Coelho só poderia estar de acordo, porque isso é “pão
para a boca” das políticas liberais.
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