Não é demais salientar o exército de
comentadores “a solo”, deste Governo em particular e do mais radical
neoliberalismo em geral, que pululam na comunicação social, tanto falada como
escrita.
Um dos que mais se tem destacado
ultimamente é João Miguel Tavares (JMT), pela forma pouco honesta que usa para
defender os seus pontos de vista e atacar os adversários ideológicos.
O modo como tem vindo a pôr em causa o
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES) revela essa faceta,
usando argumentos que demonstram um puro desconhecimento sobre o que fala,
compensado pelo fanatismo ideológico, afinal, aquilo que para ele conta mais. Há
que denegrir ao máximo o trabalho dos investigadores do CES e de outras instituições
similares, com receio de que seja colocada a nu a situação social do país e
torne impossível travar a contestação do poder. Afinal, a velha táctica da
direita: para manter o povo submisso e calado é preciso que ele continue
ignorante.
Mais do que uma
resposta tem sido dada a Tavares e a que encontrámos no Público de ontem, e
aqui deixamos transcrita, é a de um investigador belga, exactamente, Fabrice
Schurmans. Talvez JMT se convença de que, muitas
vezes a melhor forma de defender os seus pontos de vista é calar-se…
Senhor Tavares, faço parte da
malta do Centro de Estudos Sociais, um dos desgraçados que investiga nas
margens do Mondego. À semelhança de outros colegas estrangeiros, não escolhi o
CES por causa dos encantos da cidade dos estudantes nem da orientação política
da sua direcção. Escolhi o CES pelo que não encontro na Bélgica: um centro de
investigação em ciências sociais e humanas que alia pluridisciplinaridade e
qualidade. Não trabalho numa empresa privada, é verdade, não produzo objectos
manufacturados, é verdade, não procuro a salvação fora da universidade, é
verdade. Procuro um espaço onde a investigação se articula com o mundo que o
rodeia, um espaço onde se produz ciência através de uma multiplicidade de
suportes e objectos (livros e revistas nacionais e internacionais), um espaço,
o da universidade pública, que ainda permite contribuir para a salvação do
conjunto no qual se insere: a sociedade portuguesa. Far-se-ia no CES ciência
empenhada? Com certeza, Senhor Tavares, pois qualquer cientista ciente do seu
papel no social é, necessariamente, empenhado no e pelo mundo. Pena não ter
entendido o que significam noções como ciência social crítica ou teoria crítica
com ou sem aspas, pois não teria jurado com tanta facilidade na sua crónica. De
Berlim até Lisboa, a Europa está repleta de cientistas sociais críticos que
investigam segundo as regras da arte, que questionam de maneira rigorosa o
mundo que os rodeia, que tentam abrir novos caminhos não só para o progresso da
ciência como para a transformação social. Não fique preocupado, Senhor Tavares,
com o dinheiro dos seus impostos: está a ser utilizado para entender porque
grande parte deste dinheiro não vai para onde deveria.
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