Numa
altura em que, aproveitando a ignorância que grassa na sociedade portuguesa,
especialmente entre os mais novos, sobre a nossa história contemporânea, gente
desonesta e mal intencionada promove o branqueamento da ditadura que governou Portugal
durante quase meio século assim como do seu criador, António Oliveira Salazar. Um
dos principais mitos que se criaram à volta do ditador é que ele “morreu
pobrezinho, logo honesto”. Afinal não terá sido assim, como relata o
investigador Rui Curado da Silva no Diário
as beiras de ontem no texto que reproduzimos a seguir.
Quando internado após a queda da cadeira em 1968,
foi reservada a Salazar uma ala inteira do sexto piso da Casa de Saúde da Cruz
Vermelha de Benfica, isto em tempos em que apenas um terço dos portugueses
tinha alguma vez entrado num hospital.
No entanto, quando morreu a sua conta bancária
estava próxima do zero, daí a lenda do Salazar que morreu pobrezinho,
logo honesto. Mas a realidade é que a culpa de a conta bancária ter
chegado às lonas é do próprio Salazar. Apesar de ter acautelado a sua reforma
numa quinta do Vimieiro e de possuir uma conta bancária típica de um alto
representante do regime, Salazar teve o azar de cair nas malhas da
protecção social do Estado Novo. Depois de internado e incapacitado para
governar, Salazar foi exonerado e substituído por Marcelo Caetano. Tecnicamente
desempregado e com tratamentos dispendiosos para pagar, a conta bancária de
Salazar ia esvaziando à medida que passavam os meses, a tal ponto que o presidente
Américo Tomás aprovou legislação para que se pudesse pagar as contas dos
tratamentos médicos do ex-Presidente do Conselho.
O
que este episódio revela é que Salazar foi incapaz de montar um sistema de
saúde e protecção social digno, sendo incompetente a tal ponto que foi vítima
das próprias injustiças que criou, com a agravante de ter vivido os seus
últimos anos à custa de milhões de contribuintes pobres sem acesso a hospitais.
Salazar não morreu pobre, Salazar morreu a 27 de julho de 1970 como um privilegiado
do regime com governanta, chauffeur, residência e viatura de estado.
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