A
violência contra os profissionais de saúde é mais uma vez tema de um artigo de
opinião de Carlos Cortes, Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos
Médicos, desta vez, no Público. A degradação da “qualidade e da capacidade de
resposta do Serviço Nacional de Saúde” é sentida todos os dias pelos seus
utentes e a sua revolta tem como alvo médicos, enfermeiros e outros
profissionais da área que, embora conscientes da razão que assiste aos cidadãos,
pouco podem fazer perante a situação que lhe é criada pelas determinações
emanadas do Governo. Só que, os principais responsáveis pelo caos criado
encontram-se muito bem protegidos nos seus gabinetes, sacudindo a água do
capote, despreocupadamente, como se nada estivesse a acontecer.
Leia-se,
então, a opinião de Carlos Cortes
A
violência sobre os profissionais é mais um dos sinais do descontentamento que
têm assolado a área da saúde. Não vale a pena disfarçar nem distorcer a
evidência. Os indicadores estão à vista e o aumento dos casos de violência
contra os profissionais de saúde é mais um dos sintomas do mal-estar crescente
devido à alteração da qualidade e da capacidade de resposta do Serviço Nacional
de Saúde (SNS).
Ao
contrário da mensagem oficial profundamente divulgada, o SNS está muito pior.
Só quem desconhece e não vive a realidade dos hospitais e centros de saúde pode
afirmar, levianamente, o contrário.
A
insegurança no local de trabalho tem um impacto importante no absentismo, na
desmotivação e na produtividade dos profissionais. A referenciação destes casos
mais do que duplicou no ano de 2014 e aumentou acima de dez vezes nos últimos
oito anos. Deixou de ser um fenómeno isolado em manchetes esporádicas das capas
dos jornais e passou a ser o dia a dia dos hospitais e dos centros de saúde.
O
impacto da crise financeira e as suas consequências sociais são uma das causas
mais evidentes. Mas a deterioração das condições da prestação dos cuidados de
saúde e do acesso a esses cuidados são os principais fatores de uma expressão
de insatisfação que vitimiza quem dá a cara e está na linha da frente do
atendimento aos doentes. Enfermeiros, médicos e administrativos são os
profissionais mais visados.
Além
do facto em si, umas das principais preocupações é a despreocupação do
Ministério da Saúde e da Direção-Geral da Saúde, bem como a ineficácia dos
responsáveis das instituições de saúde em apoiar as vítimas e prevenir as
situações de potencial agressividade.
Mais
do que publicar relatórios anuais sobre a casuística destes acontecimentos, o
Ministério da Saúde deveria desencadear mecanismos de prevenção e proteção dos
seus colaboradores nas várias instituições em que prestam cuidados de saúde.
Ignorar este problema é colaborar no seu desenvolvimento.
A
Ordem dos Médicos está a desenvolver, em Coimbra, um Gabinete de Apoio para
apoiar os médicos vítimas de violência, nas várias vertentes deste grave
problema. A ligação às outras ordens profissionais do setor da saúde e à
Agência para a Prevenção do Trauma e da Violação dos Direitos Humanos irá
permitir identificar causas e prevenir este flagelo.
Um ministério que não cuida e
não protege os seus funcionários agrava ainda mais o sentimento de
desumanização que está a tomar conta do setor da saúde em Portugal.
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