terça-feira, 14 de abril de 2015

PROFISSIONAIS DA SAÚDE E VIOLÊNCIA


A violência contra os profissionais de saúde é mais uma vez tema de um artigo de opinião de Carlos Cortes, Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, desta vez, no Público. A degradação da “qualidade e da capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde” é sentida todos os dias pelos seus utentes e a sua revolta tem como alvo médicos, enfermeiros e outros profissionais da área que, embora conscientes da razão que assiste aos cidadãos, pouco podem fazer perante a situação que lhe é criada pelas determinações emanadas do Governo. Só que, os principais responsáveis pelo caos criado encontram-se muito bem protegidos nos seus gabinetes, sacudindo a água do capote, despreocupadamente, como se nada estivesse a acontecer.
Leia-se, então, a opinião de Carlos Cortes
A violência sobre os profissionais é mais um dos sinais do descontentamento que têm assolado a área da saúde. Não vale a pena disfarçar nem distorcer a evidência. Os indicadores estão à vista e o aumento dos casos de violência contra os profissionais de saúde é mais um dos sintomas do mal-estar crescente devido à alteração da qualidade e da capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Ao contrário da mensagem oficial profundamente divulgada, o SNS está muito pior. Só quem desconhece e não vive a realidade dos hospitais e centros de saúde pode afirmar, levianamente, o contrário.
A insegurança no local de trabalho tem um impacto importante no absentismo, na desmotivação e na produtividade dos profissionais. A referenciação destes casos mais do que duplicou no ano de 2014 e aumentou acima de dez vezes nos últimos oito anos. Deixou de ser um fenómeno isolado em manchetes esporádicas das capas dos jornais e passou a ser o dia a dia dos hospitais e dos centros de saúde.
O impacto da crise financeira e as suas consequências sociais são uma das causas mais evidentes. Mas a deterioração das condições da prestação dos cuidados de saúde e do acesso a esses cuidados são os principais fatores de uma expressão de insatisfação que vitimiza quem dá a cara e está na linha da frente do atendimento aos doentes. Enfermeiros, médicos e administrativos são os profissionais mais visados.
Além do facto em si, umas das principais preocupações é a despreocupação do Ministério da Saúde e da Direção-Geral da Saúde, bem como a ineficácia dos responsáveis das instituições de saúde em apoiar as vítimas e prevenir as situações de potencial agressividade.
Mais do que publicar relatórios anuais sobre a casuística destes acontecimentos, o Ministério da Saúde deveria desencadear mecanismos de prevenção e proteção dos seus colaboradores nas várias instituições em que prestam cuidados de saúde. Ignorar este problema é colaborar no seu desenvolvimento.
A Ordem dos Médicos está a desenvolver, em Coimbra, um Gabinete de Apoio para apoiar os médicos vítimas de violência, nas várias vertentes deste grave problema. A ligação às outras ordens profissionais do setor da saúde e à Agência para a Prevenção do Trauma e da Violação dos Direitos Humanos irá permitir identificar causas e prevenir este flagelo.
Um ministério que não cuida e não protege os seus funcionários agrava ainda mais o sentimento de desumanização que está a tomar conta do setor da saúde em Portugal.

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