Se bem que Portugal registe actualmente a
menor taxa de pobreza desde que o INE calcula este indicador, a verdade é que “a
pobreza continua a ser uma dura realidade para muitos portugueses” como afirma
Carlos Farinha Rodrigues em artigo de opinião cuja primeira parte aqui deixámos
há dois dias. Aí, foram apresentados os aspectos positivos mais significativos
que se têm vindo a manifestar, para bem de muitos portugueses.
Nesta segunda parte são mencionados os
sectores da população “em contraciclo com a evolução dos principais indicadores
de pobreza e de exclusão social” como a população idosa e os desempregados,
para além das crianças que constituem uma parte significativa dos cerca de 1,7
milhões de cidadãos em “situação de pobreza”
Em contraciclo com a evolução dos principais
indicadores de pobreza e de exclusão social, a taxa de pobreza da população
idosa registou um agravamento de 0,7 p.p., fixando-se em 2017 nos 17,7%. O
porquê deste aumento da incidência da pobreza na população idosa requer um
estudo mais cuidado, mas uma explicação possível pode residir no facto de uma
parte significativa da população idosa com menos rendimentos se situar muito
próximo da linha de pobreza e, portanto, a sua classificação como pobre ou não
pobre ser muito sensível às oscilações da própria linha de pobreza. O acréscimo
dos seus rendimentos não foi suficiente para compensar o acréscimo do limiar de
pobreza. Por outro lado, alguma desadequação dos instrumentos de combate à
pobreza dos idosos como o CSI, cujo referencial em 2017 estava cerca de 10%
abaixo do limiar de pobreza, pode constituir outro fator explicativo.
Também no que concerne à situação da pobreza da
população desempregada se registou um ligeiro agravamento. Apesar da redução da
população em situação de desemprego ter diminuído, e certamente ter-se reduzido
o número de desempregados em situação de pobreza, a taxa de incidência dos
desempregados aumentou 0,8 p.p., fixando-se em 45,7%, um dos valores mais
elevados e mais preocupantes do conjunto da população.
Um último conjunto de indicadores que merece destaque
na recente publicação do INE analisa os níveis de desigualdade. Todos os
índices de desigualdade registam uma diminuição: o coeficiente de Gini desceu
de 33,5% para 32,6% e o indicador que mede a distância dos rendimentos entre os
20% mais ‘ricos’ e os 20% mais ‘pobres’ diminuiu de 5,7 para 5,3. Estes valores
são ainda mais significativos por serem igualmente os mais baixos registados em
Portugal desde o início da corrente série estatística em 2003.
Que balanço global podemos fazer destes números e como
interpretá-los? É indiscutível que eles traduzem uma melhoria relevante da
condição social do país e traduzem uma redução dos principais indicadores de
pobreza, desigualdade e exclusão social. Tal deve-se em grande medida à
recuperação económica do país, ao crescimento económico e à queda do
desemprego. Mas deve-se igualmente a uma preocupação acrescida das políticas
públicas com as questões sociais, com a preocupação de priorizar o crescimento
dos rendimentos das famílias de menores rendimentos e ao reforço das políticas
sociais.
Mas estes
novos indicadores não nos podem fazer esquecer que Portugal continua a ser um
dos países com maior pobreza e com maiores níveis de desigualdade na Europa.
Que, no nosso país, permanecem em situação de pobreza mais de 1,7 milhões de
cidadãos, e que uma parte significativa destes são crianças e jovens. Se alguma
lição podemos tirar dos números agora conhecidos é o de que as políticas
publicas e a sociedade no seu conjunto ainda têm um grande caminho a percorrer
para construirmos uma sociedade mais coesa, socialmente mais justa, com menos
pobreza e menos desigualdade.
Sem comentários:
Enviar um comentário