domingo, 8 de abril de 2018

SOMBRAS DE CORRUPÇÃO EM PPP A NÍVEL EUROPEU


Na crónica quinzenal que assina no Diário de Coimbra, João Marques, diplomado em Ciências da Comunicação, aborda no seu último texto, entre outros temas, “os modelos de associação de privados no setor público”, em vários países europeus que entre nós chamamos PPP, assim como da nossa participação como contribuintes na “salvação” do sistema bancário em Portugal. De caminho, evocou também o cinquentenário do assassinato de Martin Luther King.
De salientar, a posição assumida pelo Tribunal de Contas Europeu, fortemente crítico em relação a uma dúzia de casos verificados em França, Espanha, Grécia e Irlanda, no âmbito das “infraestruturas rodoviárias” de das “tecnologias de informação e comunicação”.
Vale a pena ler os excertos que apresentamos a seguir pois, em especial o primeiro, não
encontraremos com facilidade na nossa comunicação social.
A instância europeia de supervisão das contas dos países integrantes (TCE) [Tribunal de Contas Europeu] criticou, sem ambiguidades, os modelos de associação de privados no setor público – entre nós com a designação de PPP’S – sublinhando “as insuficiências generalizadas, a falta de transparência e gastos ineficazes”, entre outras deficiências, em que sobressai a exponencialização dos custos.
O documento datado de 20 de março, vai mais longe ao recomendar que nem a União Europeia nem os Estados membros promovam PPP’S, até que se esclareçam todas as dúvidas do referido relatório. Pena é que o estudo se limita a doze casos verificados na França, Espanha, Grécia e Irlanda, no âmbito das infraestruturas rodoviárias (autoestradas) e das tecnologias de informação e comunicação (net/tv/fone), que representaram um investimento comunitário de €5,6 mil milhões.
Sete dos projetos analisados, envolveram autoestradas na Grécia e Espanha, sofreram atrasos na sua execução que chegaram aos 52 meses, com custos adicionais de €1,5 mil milhões. Nos últimos 25 anos, foram lançados 1749 PPP’S no valor de €334 mil milhões e face às análises, a organização alerta para “as sombras de corrupção”, dada a disparidade dos preços finais das obras e o seu prolongamento temporal.
Com o negócio das rodovias esgotado – releva – surgem novos negócios, exemplificando, com a exploração da água pública ou a saúde, que os portugueses já conhecem, o mesmo acontecendo com as suas consequências. Nos casos concretos abordados pelo TCE, os preços do metro cúbico da água doméstica são penalizados entre 22% e 90%.
Entre nós, num outro âmbito e com uma impunidade daltónica, assistimos impavidamente à nossa participação, na qualidade de contribuintes, na “salvação” de um sistema bancário – do BANIF ao BPN, passando pelo BES (Bom) e a “nossa” CGD. Para além dos €17 mil milhões já gastos, eis-nos perante um conjunto de imparidades – termo quase jocoso para não identificar as dívidas e quem as praticou – nestas instituições bancárias, que nos vai custar, até ao verão, mais €5/6 mil milhões. Com tudo isto, superamos os 10% do Produto Interno Bruto (PIB), situação inqualificável num país democrático. Tais processos, independentemente da diversidade dos protagonistas, têm uma particularidade comum: quase ninguém foi condenado, nas prisões também não estão e apenas se vai sabendo que muitos dos intervenientes continuam a viver luxuosamente, como sempre, colocando o que ainda se designa por justiça, constitucionalmente prevista, ao sabor de uma dúzia de gabinetes de “profissionais de advocacia” que, naturalmente, excelam no seu trabalho.
(…)
Em várias cidades americanas, associações internacionais e na informação planetária, a figura dos movimentos cívicos, Martin Luther King surge nas comemorações que assinalam o cinquentenário do seu assassinato, quando entre os “negros” dessa altura, e os afroamericanos de hoje, o desfasamento social continua, o racismo perdura, confirmado pelo número de assassinatos pela polícia, mais de 250/ano.

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