Comemora-se por estes dias
uma data que se tornou fatídica para a esmagadora maioria dos portugueses – a
vitória do PSD nas últimas eleições legislativas. Daí para cá, a nossa vida
tornou-se num inferno às mãos de um grupo de fanáticos, irresponsáveis e incompetentes
cujo único papel no Governo é defenderem interesses que não são nossos. As
críticas vêm de todos os lados, incluindo as dos que lhes são ideologicamente
próximos, pelo menos em teoria. A contestação social está em crescendo pois o
diálogo tornou-se impossível e a única entidade que poderia intervir, o
Presidente da República, é como se não existisse. Neste momento, para além da
contestação da rua, há que fazer chegar ao maior número possível de portugueses
a denúncia da maléfica acção do Governo que, muitas vezes, é encoberta por
muitos sectores da comunicação social. O texto que apresentamos a seguir é um
desses exemplos, foi transcrito do Diário de Coimbra do último domingo.
O sonho de Coelho e o pesadelo dos
portugueses (*)
Pedro
Passos Coelho foi sobressaltado por um sonho delirante, provavelmente, induzido
pelos gurus que o industriaram. Um sonho que se tornou num enorme pesadelo para
todos os portugueses e numa tragédia de incalculáveis proporções para o país.
Julga-se
ele capaz de ajustar a sociedade aos interesses do capital financeiro,
multiplicando a pobreza, as vezes que se achassem necessárias, fragilizando o
Povo, de modo a que os especuladores ficassem completamente tranquilos, na
abjecta tarefa de aumentarem os seus lucros obscenos. Eles precisam de juntar lucro,
ao lucro, pensa Passos Coelho.
Para
isso, é preciso ainda muito mais. Por exemplo, demolir a arquitectura jurídica
do Estado, desvalorizar princípios da democracia e conceitos de justiça social.
No
seu sonho, Passos Coelho queria superar Margaret Tatcher, Tony Blair, e Angela
Merkel. A classe média tinha de empobrecer, o operariado devia suportar os
salários em atraso, até ao aumento do desemprego, a economia produtiva teria de
ser esmagada pelos interesses do capital financeiro, os jovens teriam de ser
entregues à sua sorte e à inclemência da emigração. Os mais velhos deviam
começar a morrer à porta dos hospitais, sem se chegar a saber se o óbito teria
sido provocado pela fome, ou pela falta de cuidados de saúde. Tudo somado,
seriam mais de três milhões de portugueses lançados na desgraça, socialmente
excluídos.
Os
mais de um milhão de desempregados passariam a parasitar as miseráveis reformas
dos pais, o fosso entre ricos e pobres devia alargar-se a dimensões que não
deixassem dúvidas sobre as respectivas naturezas. Ele, Passos Coelho, achava-se
capaz de levar a bom porto esta ciclópica empreitada a que chamou de reforma do
Estado.
O
seu delírio nunca foi perturbado pela consciência de uma enorme fraqueza
intelectual, ética e política que são os traços dominantes do seu fraco
carácter. Também nunca pensou que lhe faltava apoio politico para tanto, como
hoje dizem as sondagens que deixam o PSD nuns miseráveis 26 por cento de
intenções de voto. Tal como nunca pensou que está no poder, seguro por uma
coligação pouco fiável.
Entrou
à bruta e, dois anos depois de ter chegado ao poder, nunca ninguém lhe ouviu um
voto de fidelidade à democracia, vocábulo completamente desconhecido pelo seu
ministro das Finanças. Evoca apenas um resultado eleitoral e o suporte de uma
maioria parlamentar. Esquecido que a única coisa que lhe daria legitimidade
seria o cumprimento das promessas e pressupostos, com que foi eleito.
Como
fez disso tábua rasa, está a incorrer no crime de desobediência a compromissos
que ele próprio enunciou, não podendo por isso contestar aqueles que apelam à
desobediência civil, ou outros confrontos com o Governo.
De
quando em vez, cinicamente, limita-se a elogiar o estoicismo com que os
portugueses estão a suportar as malfeitorias que vão destruindo a vida, de três
gerações. Com absoluta desvergonha, elogia o seu labor, apesar de até hoje não
ter conseguido sucesso que se visse. Confunde os problemas nacionais com os
desígnios prestamistas da Troika, para dizer que Portugal está a cumprir. E
espera os elogios do capital financeiro, que também tardam em chegar. Acredita
que justiça lhe será feita e que a recompensa chegará.
Quando
o mar fica mais alto que a terra, fala em consensos alargados, tentando com
isso amarrar e neutralizar o Partido Socialista que não pode aceitar qualquer
tipo de colaboração com este Governo. Isso transformaria o PS em braço esquerdo
da direita.
Quando
não pode escapar, aceita justificar os seus desaires, recorrendo,
invariavelmente, à desgraça europeia. Segue todos os ditames da senhora Merkel,
não se importando de liderar um Governo sem estratégia europeia. E para
vergonha nacional, nunca se deu ao incómodo de usar da palavra, num Conselho
Europeu, apesar de já os frequentar há dois anos. Não há outro caso semelhante,
na História da União Europeia.
Há
quatro meses agoirei aqui a derrapagem orçamental, confirmada esta semana
[passada]. O défice já vai nos oito por cento e vem aí um primeiro orçamento
rectificativo. O segundo também já está na calha e só falta saber se chegará ao
Parlamento antes, ou depois das eleições autárquicas.
Em
Belém chama-se a isto estabilidade política, justificando-se assim a inércia
política de um Presidente da República que ainda não resignou, mas já desistiu
das responsabilidades que a Constituição lhe confere.
Como
o quadro partidário não parece capaz de se opor a este estado de coisas, terá
de aparecer uma solução, da sociedade civil. Talvez isso acabe por motivar a
gente boa que ainda existe nos partidos. Ser português não é um azar, uma ideia
que está a assaltar perigosamente, gente de todas as gerações.
(*) Sérgio Ferreira Borges
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